A Rota da Tequila: um projeto de turismo sustentável do BID
Mariano Ceja Velasco é um rosto conhecido para os turistas que visitam Tequila, uma cidade famosa por suas destilarias e plantações de agave, no centro do estado mexicano de Jalisco. Ceja transporta os visitantes em um ônibus amarelo com o formato de uma garrafa de tequila.
"Tequila é muito mais do que (a bebida) tequila", disse Ceja, que trabalhou durante os últimos 20 anos como guia turístico na região. "Temos recursos naturais que não estavam sendo explorados. Temos a cultura de Tequila, de que ninguém falava. E também precisávamos criar atrativos. Foi por isso que inventamos desenhos mais adequados para nossos veículos."
Ceja faz parte do crescente número de pequenos e microempresários em cinco municípios de Jalisco que se beneficiaram com um projeto de turismo sustentável financiado pelo Fundo Multilateral de Investimentos (Fumin), associado ao Banco Interamericano de Desenvolvimento, e pela Fundación José Cuervo.
O Fumin, que proporciona recursos não reembolsáveis para empresas melhorarem sua competitividade, vem investindo em projetos de turismo sustentável em toda a América Latina e Caribe como uma ferramenta para promover o desenvolvimento local. Esses projetos ajudam pequenas empresas a construir negócios viáveis na área de turismo, ao mesmo tempo em que permitem que as comunidades locais preservem sua cultura e meio ambiente.
Tendo como modelo as famosas rotas de vinhos da Califórnia e Europa, o projeto criou uma rota - conhecida como Rota da Tequila - para turistas interessados em aprender não só sobre a bebida, mas também sobre os recursos naturais, a cultura e os lugares históricos da região. O projeto também oferece capacitação para que pequenas empresas possam melhorar a qualidade de seus serviços.
De acordo com Federico de Arteaga, líder da equipe do projeto no BID, a iniciativa aumentou o fluxo de turistas para a região, contribuindo para criar mais negócios e empregos, além de ajudar a população local a preservar sua cultura e seu ambiente.
A Rota
Jalisco, o quarto estado mais populoso do México, é o lar dos tradicionais Mariachis e Charros. Tem um vulcão inativo e ruínas de uma antiga civilização conhecida como los Guachimontones. Seu rico solo vulcânico é ideal para o agave azul, o principal componente da tequila, uma bebida que é produzida na região desde o século XVI.
A rota foi inaugurada em abril e passa por cinco municípios - Tequila, Arenal, Magdalena, Amatitlán e Teuchitlán -, em uma área considerada Patrimônio Mundial pela UNESCO.
"O projeto reúne vários elementos da cultura e da paisagem mexicanas, beneficiando pequenas empresas locais e não só os grandes grupos da região", disse Arteaga.
O Conselho Regulador da Tequila (CRT), um grupo sem fins lucrativos que representa a indústria dessa bebida, vem implementando o plano.
O projeto proporcionou capacitação para pequenas e microempresas da região. As empresas aprendem desde como organizar seu cronograma de trabalho até como arrumar camas e educar os turistas para evitar o acúmulo de lixo e promover reciclagem.
Depois da capacitação, Ceja duplicou o número de turistas transportados em seus ônibus, porque aprendeu a administrar melhor o negócio.
Rede de negócios
Os cursos também ensinam a trabalhar em grupo, formando uma rede de empresas de turismo para comercializar os produtos de todas elas e promover as atrações naturais, culturais e históricas da região para os turistas.
As empresas que atingiram os padrões definidos pelo projeto receberam um selo de qualidade conhecido como Tequila Turístico. Para entrar no programa e obter o selo, as pequenas empresas têm que desenvolver um plano comercial que respeite o meio ambiente, a cultura e as tradições da região e participar de sessões de capacitação.
Até agora, 40 empresas receberam o selo e outras 260 devem recebê-lo até o final do projeto, segundo Arteaga. Cerca de 1.400 pessoas serão capacitadas dentro desse prazo.
"Costumávamos ser muito individualistas. Mas agora, graças ao projeto, aprendemos a trabalhar em equipes", disse Maria de Jesus Landero Rivera, proprietária de um pequeno hotel em Tequila, que recebeu o selo Tequila Turístico depois de participar do programa de capacitação. "Agora tenho confiança para fazer recomendações a meus clientes, porque sei que eles receberão o mesmo nível de serviços que eu estou oferecendo".
Novos investimentos
Desde o ano passado, quando a notícia da rota começou a se espalhar antes mesmo de sua inauguração oficial, o fluxo de turistas na região quintuplicou. Os gastos médios por turista também subiram para 550 pesos por dia, o que representa um aumento de 38% em relação a um ano antes, de acordo com MarthaVenegas, coordenadora do projeto Rota da Tequila na CTR.
As melhores perspectivas levaram empresários locais, como Alberto Rosario Muñoz, um atacadista de móveis, a se aventurar em novos negócios. Muñoz abriu um restaurante em Tequila que serve pratos tradicionais da região, como camarão cozido em tequila e chili com carne, condimentos e frutas.
"Vimos o grande potencial do projeto e decidimos fazer um investimento importante", disse Muñoz, cujo restaurante também recebeu o selo de qualidade. "O curso de capacitação nos ensinou como tratar um cliente e até mesmo como servir um prato."
Outro comerciante, Jorge Torres, triplicou o número de lugares para 150 em seu restaurante familiar no município de Arenal depois do início do projeto.
Para Rivera, a proprietária de um hotel em Tequila, o projeto trouxe estabilidade financeira. Ela largou um segundo emprego, porque o aumento do número de turistas fez com que seu hotel de oito quartos se tornasse lucrativo. A demanda tem sido tão forte que Rivera construiu recentemente mais nove quartos e contratou três funcionários.
O projeto ajuda os pobres da região a melhorar a qualidade de seus produtos, disse Venegas. Um exemplo disso é o trabalho com artesãos para melhorar suas condições de embalagem e produção.
Dentro do plano de quatro anos aprovado em 2006, o Fumin e a Fundación José Cuervo investirão juntos mais de US$ 3 milhões para desenvolver a rota, criar serviços e capacitar empresas. O projeto também atraiu mais de US$ 4 milhões em investimentos públicos e privados para criar nova infraestrutura na região e novos negócios.