Antón Arrufat: sete perguntas muito próximo dos 80

06 de Agosto de 2015 8:20pm
claudia
Antón Arrufat: sete perguntas muito próximo dos 80

Em realidade, o leitor que conheça a Antón Arrufat (Santiago de Cuba, 14 de agosto de 1935) verá que segue sendo o mesmo: veraz, sarcástico, preciso. A quem não o conhecem, este pequeno diálogo pode os convidar a entrar em sua obra, mediante os novos livros aqui anunciados ou de clássicos como os mencionados.

Bem como eu toquei a sua porta por seus magníficos 80, você pode traspassar a ombreira. Com segurança, nada dará mais alegria a nosso autor que sua entrada ao convite.

—Nuns dias cumprirás oito décadas sobre a Terra. Como observas, desde essa altura, a sua vida, sua literatura, seu tempo?

—Seria excelente que a velhice fosse uma torre desde a qual julgar ou contemplar o mundo e o que se escreveu. Mas a velhice é um assunto dos demais. Os outros impõem-na. Querem que o chamado velho se vista de uma maneira, lhe põem barreiras e restrições. «É velho, isto não é para ti».  Mas se não está doente, mal a velhice existe para ele.

—Molestar-te-ia trascender —por culpa do incidente em torno do Prêmio Uneac de Teatro 1968— sozinho como o autor dos Sete contra Tebas?

—Desgraçadamente, para quem criaram esse incidente, segui escrevendo. Se sobrevivo a minha própria morte, estas salvarão aos sete…

—Virgilio Piñera e Lezama Lima não só seguem sendo figuras tutelares para a cultura nacional, senão presenças inapagáveis no seu próprio âmbito pessoal. Como achas que pesam hoje suas respectivas poéticas no mapa literário e artístico da Ilha?

—Acho que seus críticos, muito numerosos, responderiam melhor que eu a esta pergunta. No entanto, algo posso dizer, em primeiro lugar, não sobre sua influência «no mapa literário e artístico da Ilha», senão num aspecto mais restringido e pobre, naquele que tem que ver com o que tenho escrito. Ambos foram para mim exemplos. Tanto na escritura como no compromisso do escritor com a sociedade. Aprendi de Piñera a não me comprometer em falso, a dizer o que pensava e penso. A não aceitar falsos compromissos. De Lezama, a dizê-lo o mais formosa e autenticamente possível. Não são por isto verdadeiras figuras tutelares? Em segundo lugar, suas poéticas, muito diferentes e diversas, inclusive contraditórias, inauguram um campo de possibilidades para a literatura nacional, não somente para as seguir, também para as negar.

—Você é autor de uma ampla gama de géneros, dialogas ainda com a cada um; como detalharia os seus interesses neles com respeito aos caminhos que seguem na literatura cubana de hoje?

—Pergunta complicada de responder. Quis ser um escritor de um sistema relacionado, onde os géneros dialogaram entre sim. Ignoro se pude consegui-lo. Mas costuma ocorrer na história da literatura que um autor permaneça pelo que quis fazer mais que pelo que conseguiu. Os projetos são às vezes mais interessantes que as realizações.

—A data servir-te-á para dar a conhecer novos livros, que trazem, se trata de uma reordenação ou relocação definitiva da sua obra desde a sua perspectiva?

—Terá dois títulos novos, A cidade que herdamos, um livro no que conto o modo em que dois provincianos, avô e neto, se fizeram habaneros, e o outro, uma recopilação realizada por Cristhian Frias, O convidado do julgamento, de numerosos ensaios não recolhidos até agora em livro. Uma longa entrevista os vertebra. Segue a estes dois uma curiosidade bibliográfica, Em boca de outros, seleção de críticas a respeito de quanto tenho escrito, realizada por Cira Romero. São mais de 60 trabalhos. Somam mais de 400 páginas. Delicioso licor para os meus fãs e puro vinagre para aqueles que não me suportam.

—No entanto, desde finais de 2014 circula Vias de extinção (Prêmio Nicolás Guillén 2013), onde provas, entre outras coisas, que também a velhice é matéria de poesia. Esse livro é uma despedida, um testamento?

—É poesia, como tu dizes, de senectude. Tanto pessoal como da natureza. Velhice do corpo e mudança climática. Não é uma despedida, não aprendi a me despedir nem a redigir testamentos.

—Para finalizar, uma pergunta de comunicadores ao uso: que se sente ao chegar aos 80 anos?

—Em meu caso, uma alegria tremebunda.

Back to top