Carlos Acosta, um profeta em sua terra

04 de Abril de 2016 5:12pm
editor
Carlos Acosta, um profeta em sua terra

CARISMÁTICO, de amplo sorriso, com um virtuosismo técnico de ferro e elegante porte no palco, Carlos Acosta (Havana, 1973) fala com galhardia e humildade da criação de sua companhia, Acosta Danza, como de uma segunda parte de sua extraordinária carreira.

Foi considerado por mais de duas décadas como o melhor dançarino do mundo e comparado sem descanso com o mítico Nijinski, mas com sua arte majestosa consegui calar as tão gostadas e desnecessárias comparações, ele é um verdadeiro deus da dança. Por direito próprio.

Agora se mostra muito feliz com o anúncio da primeira temporada, na Sala Lorca do Grande Teatro de Havana Alicia Alonso, de Acosta Danza, “uma companhia com a que quero devolver ao meu país tudo o que aprendi em minha carreira, e que a penso e desejo-a nova, para lançar o talento cubano, neste momento de construir pontes”.

Naturalmente, para lançar e conseguir estabelecer Acosta Danza sabe que é imprescindível sua presença no palco, e os programas para a temporada, um clássico (16-17 de abril) e outro contemporâneo (8, 9, 10,12 e 13 de abril) assim foram confeccionados.

Em agosto de 2015 convocou várias audições na Escola Nacional de Balé Fernando Alonso e assim escolheu os 25 dançarinos, de todos os biótipos, que agora integram a jovem companhia. “Metade deles provêm do clássico (ou acadêmico) e a outra do contemporâneo. Eles devem abraçar todas as exigências, balé, dança, folclore. Sei que para isto necessitamos tempo, estamos começando”.

É que em Acosta Danza seu diretor quer “explorar muitos caminhos, por exemplo, movimentos contemporâneos, linhas quebradas, sobre vocabulário clássico. Busco um intermédio do extremo clássico à dança mais abstrata, dar uma nova alternativa, um frescor”.

Não para na técnica e, perante um ávido grupo de jornalistas na sala Lecuona do Grande Teatro de Havana Alicia Alonso, comentou que nos temas deseja que os coreógrafos que convocará trabalhem o cubano. “Neste mundo globalizado nós temos muito legado, muita riqueza na dança, na música, que eu gostaria que explorassem, com qualquer ideia, por mínima que for. Pode fazer algo espetacular com a avenida beira-mar havanesa como palco ou com um bongô no palco, algo que o diferencie da dança europeia”.

Depois da entrevista coletiva, Carlos Acosta foi generoso e respondeu outras perguntas.

O senhor integrou o Royal Ballet de Londres durante 17 anos, o English National Ballet, Houston Ballet, American Ballet Theatre, e outros grandes agrupamentos. Como se sente com sua própria companhia?

“Eu sou hoje o homem mais feliz da terra. Além dos inúmeros prêmios e condecorações (por citar alguns, Prêmio Olivier, Prêmio de Dança da Fundação Princesa Grace, Comendador da Excelentíssima Ordem do Império Britânico, Prêmio Nacional de Dança em Cuba) há pouca gente que possa dizer: eu sou profeta em minha terra. As pessoas me dão muito amor, e isso para mim é o maior que possa ter”.

Também foi o primeiro dançarino do Balé Nacional de Cuba, sob a direção da lendária Alicia Alonso. Seu legado?

“É espetacular. O Balé Nacional de Cuba e a técnica clássica, o método cubano de ensino, é um dos mais importantes do mundo e essa é a base que eu tenho. A isso se soma o que consegui aprender em outras companhias e esse todo é o que vou transmitir aos meus dançarinos. O BNC para mim sempre vai ser o que é: o ponto de partida”.

Como coreógrafo, Carlos Acosta se iniciou com o espetáculo Tocororo, uma fábula cubana, estreado em Havana em 2002. Depois montaria sua versão de Dom Quixote para o Royal Ballet, seguiu com Carlos Acosta and Friends e o espetáculo Cubanía, até a mais recente, sua adaptação nada menos que de Carmen, o romance de Merimee levado à opera por Bizet.

Acosta adiantou que vai ser uma encenação algo diferente à qual estreou em Londres. “Começando porque são dançarinos cubanos. Talvez no Royal lhes pedisse demais do folclore e até cubano. No caminho eu percebi alguns problemas, mas já não tinha tempo. Agora estou sintetizando mais e focado no triângulo amoroso Dom José-Carmen-Escamillo. Também na música, voltei a Shchedrin (Carmen Suite) e música adicional de Denis Peralta (músico e compositor cubano)”.

Para esta primeira temporada, a companhia se propôs um repertório muito ambicioso, “para dar uma ideia do espectro que nos caracterizará”.

Além de Carmen, onde Acosta fará um dom José e um Escamillo, a seleção contemporânea inclui Alrededor no hay nada, do espanhol Goyo Montero; Fauno, do belga Sibi Larbi Cherkaoui; El cruce sobre el Niágara, “uma peça espetacular” da cubana María Elena Boan, e uma estreia mundial, De punta a cabo, do cubano Alexis Fernández.

O segundo programa é uma magnífica reverência ao clássico: Pas de deux do segundo ato de O Lago dos Cisnes (Ivanov-Petipa) e de A Sílfide (Bournonville); pas de deux de Winter dreams (MacMillan); A morte do Cisne (Fokine); Diana e Actéon (Vaganova); End of time (Stevenson); A Buenos Aires (Mollajolli); Je ne regrette rien e Les bourgeois (Cauwenbergh); pas de deux de Carmen; a estreia mundial de Andromous (Raúl Reinoso), para fechar com o clássico Majísimo (Jorge García).

Carlos Acosta não esquece que para ele tudo começou na Escola Nacional de Balé de Cuba, na qual teve professores como a mestra Ramona de Sáa, e da qual se formou em 1989, com medalha de ouro. No ano seguinte recebeu Medalha de Ouro do Prix de Lausanne, o Grand Prix da 4ª Bienal Concours International de Danse de Paris (1990) e o Prêmio Vignale Danza na Itália. Pode dizer-se que daí para o céu.

“Não quis o céu para mim sozinho. O céu é muito amplo e todos cabem. Agora estou nesta segunda etapa de minha carreira, com minha companhia, para lançar minhas estrelas”.

Fuente: Granma.cu

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