Do turquesa ao marrom: Algas invadem praias do Caribe mexicano

17 de Agosto de 2018 6:58am
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Do turquesa ao marrom: Algas invadem praias do Caribe mexicano

Não se pode mencionar o Caribe sem pensar em areia branca e águas turquesa. Algumas de suas praias, no entanto, não mostram suas cores características devido a uma praga de algas marinhas que as tingiu de castanho.

Trata-se do sargaço, um tipo de macroalga de cor pardo que desde faz dois meses tem arribado às praias de Quintana Roo, estado do Caraíbas mexicano, e que não só ameaça o atrativo de destinos turísticos como Cancun e Praia do Carmen, sina também ao ecossistema da zona.

A mancha escura de sargaço estende-se por mais de 400 quilómetros e afeta também a ilhas caribenhas como Barbados e Porto Rico. Eles chamam “maré café” e pode ir até 150 metros desde a praia.

A situação tem gerado alarme nas autoridades, bem como nos empresários hoteleiros e os círculos académicos, que têm unido forças para desenhar estratégias que permitam fazer frente ao em massa arribo destas algas.

“De alguma maneira estamos a garantir que a qualidade do turismo, da paisagem e dos recursos naturais que tem o Caribe mexicano se mantenha”, disse a dpa o secretário de Ecologia e Meio ambiente de Quintana Roo, Alfredo Arellano.

As autoridades estatais iniciaram labores de remoção e extração em junho, quando as algas começaram a chegar por montões às praias. Coletou-se mais de 124.000 metros cúbicos de sargaço desde então.

Máquinas escavadoras movem-se pela areia para manter limpas as principais praias. Homens e mulheres com botas e luvas encarregam-se de coletar com pás as pesadas algas que se juntam nas orlas, formando muitas vezes montes e “ilhas” de tonalidade café.

Mas a cor desagradável não é o único problema do sargaço. "Quando chega à praia se decompõe, quando se decompõe, apodrece e emite maus odores", diz Arellano.

O fétido cheiro é molesto para os turistas que chegam a passar o verão num dos principais destinos turísticos de mexicanos e estrangeiros.

As paradisíacas praias costumam ser palcos para sessões fotográficas de recém casados, mesmas que também se viram incomodadas pelo sargaço.

“Bastante desagradável. Fomos a Mahahual porque estava a praia muito limpa, supostamente, e chegamos e encontramos um cheiro horrível e as praias cafés”, comenta em televisão Nayeli Aguilar, uma mexicana que foi desde Jalisco (este) junto a seu noivo para realizar a sessão de fotos de seu casamento.

Os especialistas ainda não têm conseguido determinar que tem provocado o arribo em massa de sargaço. “Em certas épocas do ano sempre chegava sargaço, mas nunca nas quantidades que começaram a se ver desde 2014”, diz Rosa Rodríguez Martínez, pesquisadora do Instituto de Ciências do Mar e Limnologia da Universidade Nacional Autónoma de México (UNAM).

A experta explica que o primeiro grande arribo de sargaço se registou em 2015, mas como em 2016 e 2017 diminuiu consideravelmente, se considerou um facto fortuito e que não se repetiria.

Neste ano chegou três vezes mais sargaço que em 2015 e, ainda que as causas se desconhecem, tudo aponta a que o aquecimento do clima e as águas, unido a uma mudança nas correntes marinhas e um aumento na quantidade de nutrientes no mar têm sido a “combinação ideal” para o crescimento do sargaço e que converter-se-á num fenómeno recorrente.

 “O que pensamos é que este problema vai seguir”, assinala Rodríguez. “Às vezes vai chegar em pouca quantidade e outras vezes em muita e vamos ter que aprender a viver com isso”.

O sargaço, ainda que não é tóxico em se mesmo, pode ocasionar problemas de urticaria nas pessoas. Ademais, quando se decompõe emite gases de ácido sulfídrico, que sim é tóxico e pode causar desde dores de cabeça até tontura.

Seu impacto no ecossistema de Quintana Roo também preocupa aos académicos. O sargaço pode bloquear a luz solar no água e afetar aos organismos que fazem fotossínteses.

Ademais, as bactérias e componentes que geram sua decomposição faz que diminua o oxigénio no água, o que provoca a morte de espécies marinhas como moluscos, peixes e crustáceos.

Um grupo de pessoas manifestaram sua preocupação com uma sessão de fotos realizada pelo artista nova-iorquino Spencer Tunick, que se encontrava de férias em Tulum. Semidesnudas e cobertas de algas posaram para sua lente.

Investiram-se cerca de 4,1 milhões de dólares para os labores de remoção e coleta e investir-se-ão outros 15 milhões para a colocação de cercas dentro do mar para impedir que as algas cheguem à praia.

Também se procuram formas de aproveitar o sargaço para mitigar os custos. Desde cosméticos até alimento para animais e abono podem ser elaborados a partir das algas.

“Estamos a trabalhar numa estratégia de longo prazo”, assinala Arellano. “Não há experiência em México com estes temas nem todo o Caribe, praticamente. É um fenómeno novo e estamos a aprender”.

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