Pablo Lafargue, o genro santiaguero de Carlos Marx

27 de Agosto de 2014 10:27am
claudia
Pablo Lafargue, o genro santiaguero de Carlos Marx

Quando o escritor cubano Alejo Carpentier, Prêmio Cervantes, falecia repentinamente em seu apartamento de Paris, em 24 de abril de 1980, deixava sobre o escritório, as primeiras quartilhas do que seria sua próxima novela: Verídica História, baseada na vida de Pablo Lafargue, que ficaria inconclusa. Em torno da máquina de escrever, agrupavam-se vários livros e documentos que Alejo consultava relacionados com o protagonista de sua futura novela.  

Sobradas razões teve Carpentier para inspirar na figura de Lafargue. Este ilustre cubano foi uma notável personalidade que viveu intensamente no vórtice do movimento revolucionário europeu, e um intelectual e político de ideias avançadas que conseguiu, com impulso e audácia próprias de sua origem caribenha, se situar em pensamento e ação, à vanguarda do mais progressista de seu tempo.

Pablo Lafargue Armagnac nasceu em Santiago de Cuba em 15 de janeiro de 1842. Foi discípulo e colega de Carlos Marx, além de seu genro, cujas ideias abraçou, sofrendo por isso perseguição e presídio. Descia de um judeu francês e de uma mulata haitiana instalados na cidade oriental após escapar da violência na vizinha Haiti, em tempos da rebelião anticolonialista.  

Seu pai, Francisco Lafargue, colono procedente  de Lousiana,  assentou-se nessa cidade, onde contraiu casal com Ana Virginia Armagnac e se dedicou com sucesso,  ao cultivo do café.  Pablo foi o único filho do casal, e sua genealogia reflete o mestiçagem: neto por via paterna de uma mulata haitiana e pela materna de uma nativa cubana; seus avôs, Jean Lafargue e Abraham Armagnac, eram  franceses.

Em sua cidade natal, o jovem Pablo recebeu uma excelente educação, que completou ao viajar à França com seus pais, e culminar  o segundo grau. Estudou medicina nas Universidades de Paris, e de Londres. Por esta época,  perfilou sua formação política, ao encontrar com as ideias positivistas  de Comte, os textos de Kant, Feuerbach, Darwin, Blanqui, Bakunin,  e os pensadores socialistas Fourier e Proudhon.

Na capital inglesa deveio assíduo visitante da casa de Carlos Marx. «O rapaz começou a se afeiçoar comigo, mas cedo traspassou o carinho do pai à filha», escreveu aquele a seu amigo Federico Engels. Tratava-se de Laura, com a qual Lafargue formalizou relações em 1866.

Carlos Marx não só achou no cubano a um genro que faria feliz a sua filha, senão também a um colaborador inteligente e capaz que interpretou com fidelidade sua obra. Foi, ademais, o primeiro deputado socialista no Parlamento francês. Após a morte de sua sogro, em 1883, continuou tendo um papel de primeira ordem como organizador, propagandista e teórico do socialismo.

Durante a celebração em 1889 do Congresso da Internacional Socialista, foi adotado por iniciativa sua, o Primeiro de Maio  como jornada de reivindicação operária a escala mundial.

O 25 de novembro de 1911, instalados em Draveil, (nas aforas de Paris),  padecendo os achaques da velhice, e convencidos de que tinham vivido o suficiente, Pablo e Laura se suicidaram de comum acordo, depois de ter passado uma esplêndida tarde.

Ante suas tumbas, durante o enterro, falaram personalidades tão relevantes como Jean Jaurés, líder socialista francês, e um revolucionário russo exilado, de nome Vladimir Ilich Ulianov, mais conhecido pelo pseudônimo de Lenin.

Lafargue foi jornalista e editor de reconhecidas publicações, e escreveu vários livros, entre eles O direito à pereça, um dos mais difundidos da literatura socialista mundial, somente superado nesse aspecto pelo Manifesto comunista, de Marx e Engels.

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