Falando com Guilherme Paulus

Falamos com Sr. Guilherme Paulus, quem é o ganhador do prêmio Excelências 2024 - categoria Silvia Zorzanello in memoriam,  distinção entregada durante o FITUR 2024. Guilherme é sócio-fundador da CVC, conhecida como a maior operadora de viagens da América Latina. Em 2023, se reaproximou à maior rede de varejo de turismo do Brasil, ao realizar aporte na empresa, por meio da GJP Fundo de Investimento em Ações (GJP FIA)

1 - Há quanto tempo você trabalha no setor de turismo? Quais foram suas origens?

Estou no mercado de turismo há 53 anos, meu primeiro emprego como agente de viagens foi em 1971 na Casa Faro, em São Paulo, uma tradicional agência da época. E foi esse meu emprego que me proporcionou um cruzeiro à Buenos Aires para acompanhar um grupo de viajantes. Foi numa das paradas, em Montevidéu, que conheci aquele que seria o meu futuro sócio, Carlos Vicente Cerchiari, que era um dos turistas do grupo, e deputado estadual eleito por Santo André, no ABC Paulista.

Carlos planejava abrir uma agência de viagem, mas por conta dos compromissos parlamentares não teria tanto tempo para tocar o negócio. Ele admirou minha desenvoltura na condução do grupo e me convidou para abrir a agência, a CVC (sigla que leva as iniciais do nome dele). Em 1976 ele deixou o negócio e foi viver em Santos, cidade do litoral de São Paulo. Acabei tocando o negócio sozinho. Aquela pequena agência instalada no Centro de Santo André foi o pontapé inicial para o negócio que transformou a minha vida. Hoje, a CVC é a maior operadora de viagens da América Latina, com mais de 1.100 lojas em todo o Brasil.

Em 2006, ainda ampliando nosso portfólio no mercado de turismo, adquirimos a companhia aérea Webjet, na época com uma única aeronave, e a transformamos na terceira maior companhia aérea do Brasil, operando em mais de 20 cidades brasileiras com uma frota de 30 aeronaves, até vendermos para a companhia Gol, em 2011, em um dos maiores negócios da aviação brasileira.

Como sócio -fundador da CVC, também conduzi outros negócios dentro do setor de turismo. Após a venda da CVC para o fundo de private equity Carlyle, em janeiro de 2010, um dos maiores negócios da história do turismo, segui firme o próposito de ampliar e perpetuar também a nossa marca de hotéis, a GJP Hotels & Resorts (siglas das iniciais do meu nome: Guilherme de Jesus Paulus), rede criada em 2005 e vendida em 2022 a um grande fundo de investimentos com um portfólio de 10 hotéis e resorts nos principais destinos turísticos do Brasil.

Hoje, me dedico a outros negócios, mas todos ligados direta ou indiretamente ao turismo como o Castelo Saint Andrews, em Gramado, o único hotel Relais & Châteaux de montanha do Brasil, e um condomínio residencial de alto padrão em Foz do Iguaçu (PR), o Village Iguassu Golf Residence, além de ministrar palestras em associações e órgãos ligados a turismo e secretarias de turismo de diversos estados do País. Sou membro atual do Conselho Nacional do Turismo representando o Ministério do Turismo,Membro do Conselho Consultivo do Convention Bureau de São Paulo e Presidente da GJP Holding e Participações Ltda que administra meus negócios.
 

2 - Na sua opinião, quais são os fatores que influenciaram o crescimento do turismo interno no Brasil?

O Brasil é um país de dimensões continentais e com muito mais potencial para o turismo do que temos hoje. No entanto, é um mercado que cresce a cada ano, o brasileiro gosta de viajar pelo Brasil e o mercado doméstico já recuperou os níveis pré-pandemia, o que significa que temos mais espaço para crescer. A combinação de boa infraestrutura, serviços de qualidade e acesso fácil, é um combo vencedor nesse mercado. Hoje, o Nordeste é a região preferida do turista brasileiro, pelas suas belas praias, hospitalidade e gastronomia impecáveis.

No entanto, o Rio Grande do Sul é um estado também campeão de vendas. A cidade de Gramado é um exemplo claro de calendário ativo de eventos o ano todo, vasta rede hoteleira para todos os gostos e orçamentos e atrativos que ocupam de 5 a 7 dias numa viagem de férias em família. É um destino completo.

De acordo com estudo da FecomércioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo, divulgado agora em março, o turismo nacional cresceu 7,8% em 2023, com faturamento de R$ 189,4 bilhões. Ainda segundo a entidade, a expectativa é que haja melhora nas condições econômicas das famílias brasileiras via redução na taxa de juros e inflação, e programas do governo para estimular o setor, que trazem efeitos positivos nos próximos meses, mantendo a curva ascendente do Turismo interno.

Viajar é algo que encanta, que é necessário para a alma, e que já faz parte do orçamento familiar, quem não gosta de tirar férias? O Brasil é um grande destino turístico e está sempre pronto para receber a todos, em qualquer época do ano.

3- O que significou para você receber este Prêmio Excelências?

É uma grande honra receber um prêmio tão importante para o mercado de turismo e ainda com o troféu que leva o nome de uma grande amiga, é mais especial ainda. A Silvia Zorzanello foi e continuará sendo uma inspiração para todos aqueles que trabalham com turismo no Brasil.

4 - Como está projetado o turismo interno no Brasil para 2024? Quais são os principais desafios que você prevê?

Não há como falar do turismo interno sem falar dos turistas internacionais que visitam o nosso País. O Brasil recebeu 5,9 milhões de turistas internacionais em 2023, de acordo com a Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo). Isso representa uma alta de 62,7% em relação a 2022, mas ainda 7% abaixo dos números registrados antes da pandemia. Em 2019, 6,3 milhões de pessoas visitaram o nosso País. Somente a França, que tem o tamanho do Estado de Minas Gerais, recebe anualmente 89 milhões de turistas internacionais. Veja o quanto ainda temos para crescer.

Ainda assim, o turismo foi o setor que mais contribuiu para a alta do PIB no País: 1 em cada 10 empregos no Brasil é gerado pela cadeia produtiva do Turismo. O ministério do Turismo e as secretarias estaduais e municipais de Turismo tem um papel essencial nessa vitrine do Brasil para o mundo e há muito para crescer ainda. Os desafios ainda esbarram em temas de infraestrutura. Não adianta termos um grande atrativo ou roteiro turístico se não temos uma boa rodovia, um porto de qualidade ou um aeroporto que comporte o fluxo de turistas que queremos receber.

Para 2024, apostamos numa agenda ainda mais focada na inovação, seja de destinos ou serviços, também baseada nos avanços da Inteligência Artificial. A revolução digital vem transformando a forma como os turistas planejam e vivenciam suas viagens.

O marketing digital ativo para “viralizar” nossos atrativos também é muito importante num ano como esse, repleto de oportunidades, e, claro, aliado a tudo isso, uma extensa agenda ESG por parte dos destinos e empresas, unindo hospitalidade à sustentabilidade. A natureza agradece!