Após desempenho excepcional, América Latina e Caribe enfrentam novo teste

19 de Abril de 2011 8:00pm

É amplamente reconhecido que a América Latina e o Caribe (ALC) enfrentaram a recessão de 2008-2009 muito melhor do que as crises econômicas anteriores. Menos conhecido é o fato de que o seu desempenho também foi superior ao de muitas outras regiões durante o mesmo período, tendo apresentado um declínio no crescimento menor do que a média dos países de renda média e uma recuperação rápida e mais forte.

O crescimento de 6% da região no ano passado ultrapassou em mais de três pontos percentuais a taxa de crescimento do Leste Europeu, da Ásia Central e de países de renda alta, de acordo com o novo relatório Latin America and the Caribbean’s Success Put to the Test (O sucesso da América Latina e do Caribe colocado em teste)  elaborado pelo escritório do economista-chefe do Banco Mundial para a região.

Mais precisamente, o crescimento após a crise foi desigual na região. Diversos países da América do Sul, destacadamente  Argentina, Brasil, Paraguai, Peru e  Uruguai apresentaram uma recuperação extraordinariamente forte, com taxas de crescimento superiores a 7,5% em 2010. Por outro lado, a atividade econômica em muitos países da América Central e do Caribe, especialmente as nações de língua inglesa do Caribe, registrou uma expansão na faixa de 1% a 3%. Taxas de crescimento negativas foram observadas em poucos países da região, particularmente Jamaica (-0,1%), Venezuela (-1,4%) e Haiti (-8,5%).

 Como um todo, o Produto Interno Bruto (PIB) da ALC deverá se situar entre 4% e 5% em 2011, um percentual semelhante ao esperado nos Tigres Asiáticos. Este ano, os índices de inflação também deverão se manter abaixo de dois dígitos, em torno de 6% a 7%.

O relatório, elaborado para as reuniões de primavera do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), também analisa detalhadamente a natureza da recuperação nos países da América Latina, em comparação ao seu desempenho no passado e ao de outros países de renda média. Entre as principais diferenças estão:

- Forte consumo público e privado. A demanda interna agregada superou o PIB no período pós-crise, assim como houve uma queda nas exportações líquidas.

- Recuperação com crédito. Os financiamentos hipotecários na Argentina, no Brasil, no Chile, na Colômbia, no México e no Peru se mantiveram elevados nos períodos mais agudos da crise e aumentaram de modo significativo durante em 2010.

- Recuperação com emprego. Na Argentina, no Brasil, no Equador, no Peru e no Uruguai o nível de desemprego chegou a atingir taxas mais baixas do que as existentes antes da crise econômica.

- Forte pressão da apreciação das moedas. A taxa de câmbio real efetiva dos maiores países da região apresentou uma valorização cumulativa de 18% em relação aos seus níveis mais baixos, verificados entre março de 2009 e dezembro de 2010.

A forte e exemplar recuperação da região não significa necessariamente que o caminho a seguir será mais suave. Os riscos externos e internos são grandes e os países que estão se recuperando de modo mais robusto enfrentam os desafios políticos conflitantes.

Sob o ponto de vista externo, as perspectivas da região dependem do ritmo da recuperação nas economias avançadas e do aumento acentuado no preço das commodities. No entanto, o recente desastre natural e nuclear no Japão e as implicações da agitação política no Oriente Médio e no Norte da África pressagiam condições econômicas menos favoráveis.

No plano interno, diante da combinação dos desafios impostos pela inflação, pela valorização da moeda local e pela perspectiva de um superaquecimento econômico, os bancos centrais se esforçam na busca do equilíbrio apropriado para manter, por exemplo, as taxas de juros suficientemente altas para conter a inflação, mas não tão elevadas que possam atrair capital especulativo externo.

“Essas complexidades enfatizam a importância da adoção de políticas adequadas”, afirmou Augusto de la Torre, Economista-Chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe. “Ao contrário da percepção geral, a qualidade da política macroeconômica e financeira está sendo testada de modo mais sutil e rígido no contexto da atual conjuntura flutuante.”

A atual combinação de programas parece estar pressionando indevidamente a política monetária, com insuficiente apoio fiscal. Especialmente nos países com grandes retornos das commodities, uma maior economia fiscal, sem o comprometimento dos programas sociais, seria essencial para reconstruir as margens de segurança que ajudaram a região a administrar com sucesso a crise, segundo o relatório.

Alcançar o equilíbrio entre as políticas é essencial, embora não seja suficiente, para melhorar as perspectivas de crescimento no longo prazo. Para os países da América Latina e do Caribe, estas ainda são perspectivas distantes e, na realidade, seriam impensáveis se a região não tivesse alcançado a estabilidade macroeconômica que hoje parece natural, assim como importantes avanços na redução da enorme desigualdade.

Desde 1995, o coeficiente de Gini, que mede a desigualdade de renda, caiu de 0,57 para 0,53 e a parcela da renda dos 10% mais ricos da população diminuiu 46% para 42%. Ao longo da década passada, a região também retirou mais de 50 milhões de pessoas da pobreza. Além disso, durante a recessão não houve um aumento acentuado da pobreza e foi mantida a tendência de queda na desigualdade.

Para preservar esses ganhos sociais e estimular um crescimento mais forte no longo prazo, os governos da América Latina e do Caribe precisam abordar os obstáculos estruturais a um maior crescimento, investindo em infraestrutura, inovação e capital humano, por meio de uma melhor cobertura e qualidade da educação e da saúde, conclui o relatório. Quando for apropriado, a política fiscal também deverá expandir os programas de apoio direcionados às pessoas mais necessitadas. Hoje, uma em quatro crianças na região ainda vive na pobreza extrema.

Fonte: Banco Mundial (http://web.worldbank.org/)

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