Carlos Ricardo Benavides, ministro do Turismo da Costa Rica

20 de Novembro de 2006 12:00am
godking

O Sr. Carlos Ricardo Benavides assumiu o cardo de ministro do Turismo da Costa Rica em maio de 2006 e posteriormente foi o presidente temporário do Conselho Centro-americano do Turismo. Ninguém como ele para explicar a decisão da Costa Rica de não participar da última edição da Central America Travel Market.

Sr. Ministro, gostaríamos de conhecer sua opinião acerca das razões da Costa Rica para não participar da Central America Travel Market 2006, e a posição de seu país a respeito dos operadores dos Estados Unidos.

Foi uma decisão dolorosa para a Costa Rica porque desde o início apoiamos os demais países da região para fazermos uma promoção regional única, sob a bandeira da América Central.

Além disso, tanto os compradores interessados no produto costarriquenho quanto os empresários nacionais interessados na sua venda foram prejudicados por essa decisão, embora fosse muito meditada pelos setores público e privado.

Em 2002, os presidentes centro-americanos decidiram que os sete países da região trabalhassem juntos para os mercados da Europa e da Ásia sob a marca da América Central. Como o senhor sabe, a Costa Rica trabalhou durante trinta anos para se abrir um espaço e hoje seu principal mercado são os Estados Unidos e o segundo é o Canadá, ou seja, a América do Norte representa 75% do nosso mercado.

Os acordos de 2002 excluíram a possibilidade de que a América Central trabalhasse como um bloco na promoção destinada ao mercado norte-americano, principalmente porque sabíamos que isso prejudicaria o trabalho de 30 anos da Costa Rica. É como se a Espanha tivesse que se apresentar sob a marca Europa em seus destinos tradicionais.

No último Central America Travel Market, realizado em Honduras, a idéia era que o comitê organizador convidasse apenas operadores europeus e asiáticos, mas os organizadores acharam que os operadores norte-americanos deveriam participar para o sucesso da feira e para que fosse rentável. Essa justificativa serviu para quebrar os acordos de 2002 e o princípio com que trabalhamos esses anos todos.

O escritório da CATA está em Madri, não em Denver, nem em Nova York ou em Los Angeles, o que mostra nosso objetivo de trabalhar na Europa e na Ásia, principalmente na Europa. A auto-exclusão da Costa Rica pode ter incomodado alguns, mas os mais prejudicados fomos nós próprios. Preferimos a auto-exclusão, apesar das oportunidades de negócios que perdemos, para que se respeitasse uma posição que, em termos de direito internacional, deve ser defendida dessa maneira.

Uma parte do setor privado não esteve de acordo com essa decisão e alguns operadores participaram.

É que os operadores são como pessoas independentes. Numa democracia cada pessoa tem o direito de pensar como quiser, mas as decisões nacionais são tomadas pelos responsáveis apropriados.

No caso da Costa Rica, a diretoria do Instituto Costarriquenho de Turismo e eu como ministro do Turismo tomamos a decisão governamental. O setor privado tem câmaras que tomaram uma decisão concreta. Se algum associado não esteve de acordo por interesses econômicos particulares, isso é outro assunto. Isso pode acontecer em qualquer sociedade do mundo. As pessoas podem dissentir. Mas uma coisa é que alguém dissinta e outra é a opinião generalizada representada pelas autoridades nacionais.

O senhor tem dois cargos: ministro do Turismo da Costa Rica e ao mesmo tempo presidente temporário de uma associação que não participou na feira de Honduras.

Minha presença como presidente temporário teria sido identificada como a do ministro da Costa Rica. Acho que era totalmente desnecessário. Em primeiro lugar, eu teria participado como ministro da Costa Rica.

Eu deixei clara minha posição num comunicado que assinamos o ministro anfitrião e eu, um documento pacífico que expunha a posição dos dois. Eu não participaria dum evento que contrariava os regulamentos da organização.

Minha posição não é subjetiva, baseia-se no memorando de entendimento de 2002 que é claríssimo quanto ao trabalho destinado aos mercados da Europa e da Ásia. É isso que assinala o direito e a Costa Rica e os outros países da região somos Estados de direito.

Neste caso, a única coisa que pedíamos era que a lei fosse respeitada. Era incompatível com a democracia que alguém ignorasse a lei.

Há uma reunião de ministros centro-americanos em breve. Se esta regulamentação não fosse aceite, a Costa Rica poderia abandonar o Acordo Centro-americano de Cooperação?

Hoje existe uma regulamentação e nós vamos respeitá-la porque nos satisfaz. A pergunta deveria ser feita aos que pensam de outra maneira.

O que espera a Costa Rica do mercado europeu a partir desta nova política comercial mais agressiva? O país de maior presença no estande da América Central na WTM foi a Costa Rica.

Temos muito interesse no mercado europeu que se adapta muito bem ao produto costarriquenho. O turista europeu na região é educado, com estudos superiores, preocupado com temas que oferta o produto costarriquenho: a proteção da natureza, a sustentabilidade e a responsabilidade social das empresas. Temos que aproveitar essas coincidências.

Além disso, não queremos depender de um único mercado. Da mesma maneira que recebemos o turismo norte-americano, sabemos que deve haver um equilíbrio que nos permita enfrentar qualquer situação emergencial que afete a vinda de turistas dos Estados Unidos.

O turista europeu permanece no país por mais tempo e suas despesas são altas. Acho que vale a pena o esforço.

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