As dúvidas dos pilotos e das famílias no caso do AF-447

03 de Junho de 2010 2:28pm
godking

O processo penal sobre o acidente com o Airbus A330 que fazia o voo AF 447 entre o Rio de Janeiro e Paris terá início nos próximos dias enfrentando as dúvidas dos familiares sobre a independência do Bureau de Investigações e Análises (BEA) frente às poderosas construtoras e companhias aéreas do país, encabeçadas pela Airbus e a Air France.

Dados preliminares das investigações feitas pelas autoridades francesas revelaram que falhas dos sensores de velocidade da aeronave, conhecidos como sondas Pitot - que permitem ao piloto controlar a velocidade da aeronave, um elemento crucial para o equilíbrio do voo - parecem ter fornecido leituras inconsistentes e podem ter interrompido outros sistemas do avião. Mas investigadores deixaram claro que esse seria apenas um elemento entre outros envolvidos no acidente. Em 30 de julho do ano passado, a fabricante anunciou que recomendou às companhias aéreas que trocassem pelo menos dois dos três sensores - até então feitos pela francesa Thales - por equipamentos fabricados pela americana Goodrich. Na época da troca, a Thales não quis se manifestar.

As causas da catástrofe permanecem um mistério que só as caixas pretas poderiam esclarecer.

No início de maio, a Marinha havia anunciado que a evolução do software que analisa os sons captados no fundo do mar possibilitara a localização precisa de 200 km onde estariam as caixas pretas, que teriam sido encontradas graças a um sinal constante que emitem por cerca de um mês após um acidente. O BEA levou ao local o navio Seabed Worker, equipado com dois submarinos-robôs, mas dois dias depois anunciou que não havia encontrado nada e que retornava à região onde estava anteriormente, distante 75 km a nordeste.

Para o presidente de um sindicato minoritário de pilotos da França, Gérard Arnoux, não restam dúvidas sobre a responsabilidade das sondas Pitot na queda do avião.

Junto com outros dois pilotos, Arnoux preparou um dossiê com mais de 600 páginas sobre os problemas verificados com as sondas Pitots em dezenas de voos, desde 1995, e também sobre aquilo que aponta como erros cometidos pelo BEA na investigação do acidente com o AF 447. Ele afirma que o BEA se recusa a considerar o relatório e espera que a Justiça o considere quando o processo que determinará as responsabilidades penais pelo acidente começar, na primeira semana de junho, embora os relatórios oficiais do órgão sejam os utilizados para julgar o caso.

"A causa deste acidente são as sondas Pitots. Eles não querem é admitir", afirmou Arnoux. "É simples assim: se as Pitots tivessem sido trocadas no momento em que se perceberam as suas falhas, este terrível acidente provavelmente não teria acontecido e as 228 vítimas estariam hoje com seus familiares." O sindicalista defende que, ao final da investigação realizada pelo BEA, outra apuração seja realizada, por especialistas estrangeiros sem qualquer ligação com as empresas de aviação francesas. Ele disse que proporia inclusive um convite a um "respeitado especialista" do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), do Brasil, para participar da contra-investigação.

Outro sindicato, o majoritário SNTL, é mais prudente e modera nas críticas ao responsável por encontrar motivos da tragédia. "Concordo que, sem as caixas-pretas, não saberemos jamais com certeza quais foram as causas dos acidentes. As sondas Pitots sem dúvida desencadearam um processo de pane, mas, hoje, não se pode dizer que foram a única causa para a queda da aeronave", afirmou o presidente, Louis Jobare. Ele preferiu não comentar se o BEA poderia estar acobertando as grandes empresas, mas reclamou da falta de transparência durante as investigações e pediu mais independência. Os representantes da categoria ouvidos foram unânimes neste ponto. "O equivalente americano do BEA, o NTSB, é verdadeiramente independente, não é ligado nem ao governo, nem às empresas. Precisávamos de um instituto semelhante para dissipar qualquer dúvida", declarou Eric Derivry, do Sindicato dos Pilotos da Air France.

O BEA se defende das críticas afirmando que trabalhou em conjunto com a Marinha na primeira fase das buscas e que toda a região indicada pela Defesa foi vasculhada. "Faz um ano que estamos no centro das críticas, mesmo se tentamos ser transparentes ao máximo", disse a assessora de imprensa do órgão, Martine Del Bono.

Fonte: http://odia.terra.com.br/

Back to top