Entrevista a Joan Pascual Comas, diretor de NT Incoming

13 de Abril de 2015 11:17pm
claudia
Entrevista a Joan Pascual Comas, diretor de NT Incoming

Há uma preocupação no mercado pela solvência dos tour-operadores russos, pela sua credibilidade no pagamento. Como afecta isto às relações de NatalieTours com os hoteleiros espanhóis e os prestadores de serviços?

- O 2014 foi catastrófico na Rússia. Tem-se-lhes juntado a tormenta perfeita. Têm tido problemas de relações com Europa, de credibilidade na tour-operação devido à quebra de tour-operadores, dificuldades económicas. Todos os tour-operadores, sem excepção, têm perdido muito dinheiro. A partir daí têm avariado alguns, têm aguentado alguns. Como vingam um ou mais dois anos como 2014, minha opinião é que não vai ficar nenhum.

A realidade é que agora acho que mais ou menos os tour-operadores que têm aguentado têm resolvido os problemas económicos. Alguns têm posto algum pagamento, outros com abonos. A venda está a funcionar. Nas últimas duas ou três semanas está a melhorar bastante com a subida da paridade rublo-euro e isto evidentemente ajuda ao cash flow, já que entram depósitos e isto está a sustentar, contendo um pouco a situação dos tour-operadores.

Se o ritmo mantém-se ou vai subindo como as últimas duas ou três semanas, se prevê um verão um pouco mais tranquilo. Como tenha outra crise com a Ucrânia, entrem em temas bélicos ou volte a baixar o petróleo, ninguém sabe o que vai passar.

Como está a afectar a atomização da oferta receptiva no mercado espanhol, dada pelo fechamento dos grandes receptivos, em frente ao mercado russo?  

- Acho que não se pode globalizar o mercado nacional. Há zonas como Baleares, por exemplo, onde a venda vai muito bem. O mesmo ocorre em Costa do Sol. Há uma concorrência que é normal no mercado: lei de oferta e demanda. Há outras zonas, como Costa Dourada, onde se prevê que, devido ao descenso do mercado russo, terá muitas camas e isto vai produzir uma queda dos preços.

Baleares, Costa do Sol, Canárias estão a manter estes mínimos de pagamento de handling fee, preços de transfer. Outro tema é tour-operadores ou grandes receptivos que têm perdido carteira de clientes e não têm mais remédio para subsistir que entrar nesta guerra, lhe chamemos “desleal”, de preços.

Eu diria que se espera um bom verão para Espanha. Segundo as previsões que temos, ao menos em nosso caso que recebemos tour-operadores de Grã-Bretanha, Alemanha, França, Centro-Europa, em todos os mercados em general, a excepção do russo, a venda está a funcionar muito bem.

Dantes tinha um receptivo geral, têm saído cinco empregados, combinaram-se com dez grupos hoteleiros e a cada um tem diferentes tarifas. Eles não têm estrutura, não pagam impostos, não têm dependência. Como sente isto um tour-operador grande como vocês?

- Esta concorrência desleal sempre tem existido, não só no mercado nacional, senão em muitos mercados. Eu acho que são flores de primavera. Quando entre um calor ou frio vão desaparecer. O sistema tributário espanhol e de controles trabalhistas tem-o que regular. Acho que a cada vez há mais inspecções no sector turístico, coisa que, ainda que o soframos em carne própria, o agradeço. Singelamente há que controlar que todo mundo cumpra com suas obrigações tributárias, trabalhistas, que joguemos todos com as mesmas regras. A partir daí esta gente vai durar pouco.

Aproximadamente o descenso que NatalieTours tem tido do mercado russo para Espanha, sobretudo para Cataluña, no 2014 tem sido de 30%.

- Em general tem sido 27% para Espanha. Tem tido zonas com mais e outras com menos. Em Cataluña sim tem baixado mais, porque seu volume era maior, um 32 ou 33%.

Qual tem sido a outra zona com maior *decrecimiento?

- Todos os destinos de Europa são destino euro e são destinos caros. Itália tem descido, Grécia tem descido, Chipre também.

Dentro da Espanha, qual é o segundo destino com maior descenso?

- Contando que se trabalha todo o ano, temporada verão-inverno, o segundo destino é Canárias. Este inverno tem sido muito mau em Canárias.

Que destino pode ser o mais afectado em Itália?

- Itália não é destino sol e praia, senão produto circuito cultural. Entram pelo norte de Itália e fazem a típica viagem de cinco ou seis pernoitas. Aí também se desceu, porque são produtos que não são baratos, já que inclui cinco dias de hotéis, excursões. Isto é o que tem descido mais.

Pudesse ter um repunte do Caribe por esta crise na Espanha?

- É destino dólar, o dólar está caro; é long haul, são 12 horas desde Moscovo. O ticket de avião sai muito caro. Quanto às previsões que há para o verão, temos visto que praticamente Cancún se ficou sem voos.

Uma diminuição de 70%.

- Mais de 70%. Para a República Dominicana parece-me recordar que tinha 16 voos desde a Federação Russa. Acho que agora está em 7 e a tendência é a baixar mais, a consolidar 4 ou 5 voos. Essa é a tendência para o verão.

Temos escutado que Cancún – Riviera Maya tem registado mais de 70% de decrescimento e República Dominicana quase outro 70%.  

- Aproximadamente. E Cuba está na mesma linha. O problema é a perda do poder adquisitivo por parte da população russa.

No entanto, o russo que saía há 10 anos segue saindo hoje exactamente igual. Na Espanha a derrama de despesa tem sido superior.

- Eu definiria que a classe média alta na Rússia não se mantém, mas o descenso tem sido limitado. A classe média alta é a que tem sofrido mais e a classe média tem ficado em baixa. Essa é a que tem recebido o golpe duro e essa era a gente que passava dois anos trabalhando para ir de férias a Europa, que era seu sonho, já seja Itália, França ou Espanha. Eles têm perdido todas as possibilidades de viajar.

Há algum movimento em Rússia de nascimento de algum grande tour-operadores, aproveitando o oco que deixaram os demais?    

- Não há nada. Teve movimento. Thomas C. fez sua absorção, TUI Rússia com VKO. Acho que a operação tem-no-lhes saído muito bem, os números são claros e duvido muito que, ao menos em curto prazo,  tenha alguma intenção por parte de um grupo grande de concentrar mercado. Estão a esperar um par de anos para ver que sucede. É um mercado potencial de 140 milhões.

Qual é sua opinião com respeito à venda na Rússia através de agentes de viagem em casa?

- É um mercado maduro culturalmente e em tecnologia, com travas como o visto. O visto, por exemplo, para destinos europeus é uma grande trava. Realmente a obtenção de visto através de um tour-operador é bastante mais fácil que um cliente que compre on-line directamente ou que compre através de novas tecnologias. Depois a obtenção do visto significa ir à embaixada do país de turno, fazer bichas, ir num dia, voltar. Tudo isto o faz muito complicado e ajuda a manter um pouco a tour-operação.

Se não existissem vistos, o mercado on-line seria tremendo na Rússia. Mas parece que o visto vai a perdurar muitos anos e se está a complicar bem mais com o visto biométrico.

No mercado de agências de viagem são 30 mil agências aproximadamente.

 

- Eu diria que com 30 mil estamos a falar de faz três ou quatro meses. Na actualidade atrever-me-ia a dizer que um 10 ou 15% têm desaparecido.

Existe alguma acção que se possa fazer se o Médio Oriente segue estando com problemas de guerras ou falta de segurança? Crê você que pode seguir sendo um apoio para que os russos não viajem para esses destinos e elejam Espanha ou Itália?

- Não. Este tema eu o falei com colegas da Federação Russa e eles te falam claramente. Dizem-te: “problemas de segurança que no-lo contem a nós que em casa entre chechenos e assassinatos de políticos da oposição pela rua, os têm ao dia a dia”. A eles não lhes assusta, não têm o temor que temos nós de viajar a esses destinos, lhes preocupa pouco. Egipto é um exemplo. Digamos que Egipto é um país na órbita islâmica, está baratíssimo, estão a atirar os preços e é o destino melhor vendido desde a Federação Russa.

Há algo mais que possa contribuir sobre o mercado russo?

- O mercado russo leva 22 anos, desde que iniciou-se em Europa, com um crescimento sustentado entre subidas de 20, 30 ou 40% ano após ano. Passamos uma crise económica no 2007 e 2008 de desvalorização do rublo e superou-se. Nada que ver com a crise actual. É bem mais forte, é bem mais conjuntural e eugostaria de reclamar um esforço tremendo para não esquecer este mercado que tanto nos contribuiu e que tanto percurso tem.

Tomar-lho em sério, utilizar todos os meios disponíveis através de organismos oficiais, hotéis, indústria privada, para manter minimamente este mercado durante os dois ou três anos que se prevêem que vão ser maus, porque acho que tem um potencial tremendo e há que lhe apoiar.

Acha que tem melhorado substancialmente a tramitação do visto espanhol?

- Sim. A embaixada espanhola é a melhor por facilidades, por meios, por prontitude, por rectitude. Segue sendo uma trava, mas há que dar as obrigado porque a verdade é que todos os tour-operadores põem à embaixada espanhola de exemplo.

NatalieTours Espanha tem pensada a participação em algum outro grupo hoteleiro, em alguma companhia de serviços?

- Em Natalie Tours Espanha somos sócios Natalia, Vladimir e eu mesmo e é uma empresa. Independentemente participamos em algumas operações hoteleiras e algumas companhias de serviços.                                               

Natalie Tours Espanha está a comprar habitações ou combinando-se com hotéis para poder fazer uma promoção melhor?

- Sim. Fechou-se alguma operação e algum contrato com garantia. Reduzimo-lo a níveis mínimos e com produtos muito demandados, produtos muito exclusivos.

Quais são esses destinos?

- Eu dizer-lhe-ia que um 10% do que era o ano anterior.

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