Héctor Lescano, ministro do Turismo do Uruguai: "Uma parte da história uruguaia é portuguesa"

O Uruguai, que decidiu apostar forte no turismo, recebe cerca de dois milhões de visitantes estrangeiros, e olha para a Europa, nomeadamente para países como Portugal, Espanha e Itália, com os quais tem vínculos históricos perduráveis.

Disseram-me que o Uruguai está muito interessado no mercado português...

Efetivamente, o Uruguai quer diversificar o seu mercado. Tínhamos quase uma "monocultura" com a Argentina, que continuará sendo o nosso principal mercado emissivo, mas há um acordo unânime entre o setor público e privado no tocante à procura de mais turismo no Brasil, Estados Unidos, Europa e nos países emergentes asiáticos.

Na Europa, Portugal tem uma característica muito especial e é que a colônia do Sacramento, uma belíssima cidade que se encontra na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco, foi fundada por Portugal, ou seja, há uma parte da história uruguaia que é portuguesa.

O presidente do nosso país viajou recentemente a Portugal com uma delegação política e empresarial. Foram muito bem acolhidos e expuseram ali seus pontos de vista a respeito de relações mais estreitas entre ambos os países. Posteriormente hoteleiros portugueses visitaram o Uruguai e sei que há negociações bastante avançadas para o início de investimentos portugueses no setor imobiliário.

O senhor poderia mencionar alguns dos empresários ou companhias interessadas em investirem no Uruguai?

Por enquanto prefiro não tornar públicos seus nomes, mas são empresários muito importantes ligados à cadeia hoteleira à qual pertence o hotel em que permaneceu o nosso presidente durante sua visita a Portugal.

O Uruguai é um país muito sério, com regras claras para o investimento estrangeiro. Temos uma política de Estado, nacional, daí que os contratos sejam respeitados pelos diferentes governos.

Além dos investimentos, estamos interessados nos turistas e Portugal tem muitas chances também nesse sentido. A idéia é promover Punta del Este e outros destinos para o período da aposentadoria. Uma pensão média em euros permite boas condições de vida no Uruguai. Não apenas no Leste, mas nos restantes destinos nacionais. Os setores do imobiliário e dos serviços estão trabalhando no que eles chamam de turismo acessível, de maneira que essas pessoas recebam serviços médicos e diversas coberturas. Há muitos europeus e norte-americanos interessados e o Ministério quer apoiar isso.

Além da terceira idade, há outros grupos de interesse para o Uruguai?

Interessam-nos todas as faixas etárias, mas os jovens constituem um grupo muito importante, principalmente associado a diferentes eventos esportivos.

O Uruguai também quer sediar eventos e convenções, e para isso temos dois grandes espaços: Montevidéu e Punta del Este.

Por outro lado estamos recebendo cruzeiros. Cerca de 200 navios fazem escala nos portos de Montevidéu e Punta del Este e, ainda que não tenha o número, sei que vêm portugueses neles.

O Uruguai está apostando no turismo e nesse sentido olha para a Europa, nomeadamente para países como Portugal, Espanha e Itália com os quais temos vínculos históricos.

Quais os números do Uruguai no turismo?

O país está recebendo cerca de dois milhões de visitantes por ano e estamos falando de um país de três milhões e meio de habitantes.

Temos um conflito com a Argentina devido à possível poluição do rio Uruguai, que compartilhamos, com os resíduos de uma fábrica de papel. Temos a certeza de que isso não vai acontecer. É um compromisso muito forte do governo, mas mesmo assim houve uma queda no número de visitantes, ainda que as receitas aumentassem 28% em 2007, o que significa um aumento da estadia e das despesas per capita diárias, bem como mais ofertas turísticas no Uruguai.

*Presidente do ETP - European Travel Press; presidente da AJOPT - Associação dos Jornalistas Portugueses de Turismo; membro da UNWTO - Tourcom Network of Communications; membro do ICTP - International Council of Tourism Partners; e diretor da Prime Milenium