Herbert Estuardo Meneses Coronado, embaixador da Guatemala em Cuba

29 de Agosto de 2007 8:12am
godking

Uma aliança estratégica e de complementaridade entre a América Central e o Caribe poderia ser muito proveitosa para o turismo a partir dos primeiros passos da região centro-americana nesse sentido e da experiência e proximidade da região caribenha. É a opinião de Eduardo Meneses, embaixador da Guatemala em Cuba, que descreve nesta ocasião os grandes atrativos de seu país para a prática de diferentes modalidades turísticas.

A Guatemala, como os restantes países centro-americanos, tem importantes resultados em seu desenvolvimento turístico. Quais as principais atrações turísticas e os pontos altos do país nesse sentido?

A Guatemala é principalmente um destino cultural e natural. Um país multiétnico, pluricultural e multilíngüe com mais de 2 mil sítios arqueológicos. Temos uma cultura viva representada pelos povos descendentes dos maias e um patrimônio colonial porque os espanhóis construíram muitas cidades na Guatemala.

Tikal é a expressão maior do mundo maia e Antigua Guatemala a cidade colonial mais importante. As duas cidades são Patrimônio Cultural da Humanidade, representantes indiscutíveis da nossa riqueza, mas outros monumentos arqueológico também têm essa classificação.

Do ponto de vista natural, o país está localizado num corredor biológico muito importante no qual a fauna e a flora são muito apreciadas. Assim, a cultura e a natureza tornam a Guatemala um destino muito atrativo.

Já a Cidade da Guatemala, como cidade moderna, oferece serviços de qualidade para a realização de convenções e conferências internacionais, como a eleição do Comitê Olímpico Internacional, realizada recentemente, que teve uma difusão mundial.

Quais as modalidades turísticas que iriam desenvolver no futuro? O turismo de montanha ou o de sol e praia?

A Guatemala é um dos países da América com maior quantidade de vulcões. É um país de montanhas e vales. Assim, o alpinismo e as excursões às montanhas e vulcões são produtos que podemos oferecer. Muitos dos vulcões têm lagos espetaculares, de modo que a pesca é mais uma opção, além do vôo livre. São modalidades com muito desenvolvimento atualmente.

Temos outros destinos ecoturísticos com destaque para a fauna e a flora nos quais visitantes e moradores convivem no mesmo hábitat. Temos espécies aquáticas protegidas no Rio Dulce, no Nordeste, e destinos de pesca do peixe vela, onde se pratica a pesca e a libertação dos exemplares capturados.

Qual a sua opinião sobre a estratégia de promoção e desenvolvimento turístico da Guatemala?

A estratégia atual da Guatemala é privilegiar a cultura, a arte e nossa história. A frase "A Guatemala é a alma da terra", um pouco mística, refere-se à localização geográfica, mas também à confluência de civilizações, como a maia, uma das mais importantes da humanidade, e a espanhola.

Essa confluência de culturas faz a diferença da Guatemala e é por isso que as autoridades turísticas adotaram essa frase como slogan promocional. Apenas a região ártica está ausente no nosso país. Temos mais de 30 vulcões, montanhas, lagos, mar, uma grande riqueza da flora e da fauna e uma cultura não adulterada, que não precisa de disfarces para espetáculos.

O que é que falta para fortalecer o turismo da Guatemala?

Em primeiro lugar acho que deveria melhorar o funcionamento do país para que fosse mais eficiente. Os guatemaltecos deveriam aumentar sua auto-estima, orgulhar-se do que são e do que têm. Isso gera confiança em nós próprios, mas também nos visitantes.

Por outro lado devemos reduzir o custo das operações, aprofundar o processo de unidade política na América Central, mas com uma visão de complementaridade, não de concorrência, procurando oferecer destinos múltiplos convenientes, não apenas do ponto de vista do preço dos serviços, mas também dos benefícios para os nossos povos.

É importante também uma maior cooperação regional em termos de segurança. A violência não é apenas um problema interno. É de caráter internacional e tem de ser combatida através do esforço coordenado internacionalmente.

Devemos destinar mais recursos à conservação e à promoção do patrimônio cultural e natural. Tivemos a sorte de nascer num país rico, mas essa riqueza poderia desaparecer se não for protegida.

Temos mais de 2 mil sítios arqueológicos e poderíamos ter ainda mais, mas não temos recursos para pesquisas e conservação, daí que seja preferível que continuem ocultos sob a terra. No futuro, com mais recursos, então poderemos mostrá-los ao nosso povo e aos turistas.

Temos dificuldades de acesso aos destinos turísticos. Não temos ainda a infra-estrutura apropriada. Devemos melhorar a infra-estrutura marítima, aérea e terrestre e ainda que tenhamos avançado, ainda não é suficiente.

Qual a sua opinião acerca da CATA, a agência de promoção do turismo centro-americano na Europa?

Acho que foi uma magnífica decisão porque está promovendo os destinos múltiplos de maneira integrada e estratégica a partir do conhecimento dos destinos nacionais de cada país.

E no que diz respeito aos mercados emissores, quais são os aspectos a serem trabalhados?

Há mercados que representam uma boa quantidade de visitantes, como os Estados Unidos e o Canadá. O Salvador tornou-se um grande mercado para a Guatemala. Há mercados em desenvolvimento como a China e a Europa, mas pessoalmente acho que a Guatemala deve olhar mais para o Caribe e a América do Sul, quer seja para atrair o turismo nacional desses países ou aquele que visita esses países e que também poderia visitar o nosso.

O projeto "Praia Maia", uma proposta que fizemos às autoridades cubanas, poderia funcionar bem como destino múltiplo se conseguíssemos vender aos turistas que procuram as praias cubanas nosso patrimônio cultural, porque Tikal e Havana estão muito perto.

O aeroporto do Petén, onde se encontra Tikal, já tem autorização para operar como aeroporto internacional. A Bahia, no Nordeste brasileiro, também tem um aeroporto muito bom, e isso poderia ser o ponto de partida para um destino múltiplo.

Se conseguirmos pacotes turísticos mais baratos, com valores mais razoáveis, poderíamos obter melhores resultados. Para um brasileiro é mais barato agora viajar à Europa do que à Guatemala. Isso é um absurdo.

A complementaridade exige negociações com as companhias aéreas e com os hotéis. As aéreas utilizam nosso espaço aéreo, mas o benefício para os cidadãos que são os donos desse espaço são muito limitados em função da rentabilidade das empresas.

Isso não incentiva o turismo regional e assim os guatemaltecos perdemos a chance de conhecer destinos como o Brasil, a Argentina ou o Chile, ou mesmo o Caribe, estando tão próximos. Nós não conhecemos nossos países e isso é um problema de enfoque.

Há um movimento político regional importante. Qual a influência que isso poderia ter no desenvolvimento do turismo sustentável na Guatemala e na região?

Nesse sentido é necessária a continuidade dos planos. Infelizmente cada governo vem com seu seus planos e com seus executivos, e a falta de estratégia e de conhecimento deles pode provocar a multiplicação de esforços e de investimentos sem resultados.

O turismo poderia ser o carro-chefe do desenvolvimento regional. Na Guatemala já temos todos os ingredientes, mas não temos conseguido ordená-los adequadamente nem aplicar os recursos que permitam a explosão turística.

O crescimento de 2007 foi de 9,5% em relação a 2006 e poderia ser maior se priorizarmos o turismo. Um maior investimento na promoção, melhores serviços e sistemas de segurança, e o aumento da auto-estima aumentariam a vinda de turistas não apenas à Guatemala, mas a toda a região.

Não esquecemos que somos guatemaltecos, centro-americanos, latino-americanos e ibero-americanos desde a chegada dos portugueses e espanhóis ao Brasil e ao resto da América Latina. Devemos contribuir para o melhor conhecimento dos nossos países e para isso devemos fortalecer a institucionalidade e ferramentas como a CATA.

Mais alguma mensagem para os nossos leitores?

Agradeço a oportunidade de expressar estas idéias através de um veículo informativo como este, com tanta transcendência no Caribe, nas Américas e na Europa.

Back to top