Luis Boves, conselheiro de Turismo da Embaixada da Espanha e diretor do Escritório de Turismo desse país em Moscou para os países do Leste Europeu
Nos últimos oito anos, o mercado russo registrou um crescimento extraordinário no envio de visitantes não apenas para a Espanha, mas para o mundo todo. Agora a crise provoca sua contração, mas Boves confia na recuperação desse mercado emergente, com grande potencial de crescimento e desenvolvimento futuros.
O senhor poderia explicar a situação do mercado russo em relação à Espanha?
O mercado russo atravessa uma situação difícil e não pode ser de outra maneira em meio à situação global. Há seis meses funcionava de maneira fenomenal. Nos últimos anos, concretamente de 2004 a 2008, registrou crescimento de 110%.
No mês de outubro começamos a ter números negativos na emissão de turistas russos para a Espanha. O momento é difícil porque a macroeconomia está em dificuldades na Rússia e é uma situação que vai afetar não apenas a Espanha, mas todos os destinos.
Quais os operadoras que trabalham o mercado espanhol?
Aquelas que estão cadastradas no consulado geral da Espanha em Moscou. A Natalie Tours tem 47% de cota de mercado e o maior número de vistos, seguida da Cestur, com 14% de cota de mercado, e depois as VKO, Capitaltour, Bremia, Soltour e Vantur. São as principais.
E a Soltour, a operadora espanhola?
Sim, a Soltour tem uma delegação aqui há alguns anos.
E os alemães como a Thomas Cook, têm delegações?
Delegações não, mas têm sócios ou compraram empresas nos últimos anos. O exemplo mais importante no mercado espanhol é a Twee, que desembarcou há cinco anos comprando a empresa russa Mostravel e que aos pouco tem evoluído num mercado complicado como o russo. Os outros estão se posicionando.
O turista russo é apenas de sol e praia?
Não. É de sol e praia e muito mais. É um turismo sazonal - 80% do turismo que recebemos é de maio a setembro, mas isso não quer dizer que vão desfrutar apenas do sol e praia. É o nosso principal produto e acontece com todos os mercados, mas os russos têm características especiais. Eles gastam bastante e interessam-se muito pela cultura e pelo esporte, e isso faz com que suas despesas sejam superiores às dos restantes turistas da Comunidade Europeia.
No ano passado, por exemplo, foi aberto o museu Gaudi na cidade de Reus. O segundo mercado depois da abertura, depois do espanhol, foi o russo.
São turistas que, depois de um dia na praia, vão conhecer as coisas que identificam o país onde estão.
E a imagem do russo destrutor, que bebe muito e que não tem um comportamento correto nas instalações hoteleiras?
Os hoteleiros espanhóis dizem que não é assim. É um estereótipo, um mito como aquele de que os espanhóis aqui são todos toreros ou parentes de Antonio Banderas.
Os russos bebem ou fumam como pode acontecer em outros destinos como o britânico ou o alemão.
Quais os destinos mais valorizados pelos turistas russos na Espanha?
Valorizados eu acho que todos, mas segundo os números a Catalunha recebe praticamente 50% do total. De fato temos turistas russos em todos os destinos clássicos de costa como Costa del Sol, as Baleares, Valença e até em Múrcia. Já Madri está sendo descoberta agora, principalmente depois do aumento dos voos regulares dos últimos anos.
E as cidades russas com maior emissão de turismo para a Espanha?
Sem dúvidas Moscou, o que está ligado ao desenvolvimento econômico no país. Segundo as estatísticas, 80% do PIB passa por Moscou. Depois São Petersburgo, uma cidade de mais de 5 milhões de habitantes. Os operadores russos contratam charters durante o verão nas cidades de mais de 1 milhão de habitantes e há mais de 12 cidades com essa população.
Qual a percentagem de viajantes de maior poder aquisitivo?
Não sei, mas há muitos. Calcula-se que, apenas em Moscou, haja de 70 mil a 80 mil multimilionários. A crise fez com que desaparecessem 55 da lista da Forbes, mas ainda continuam alguns dos clássicos.
A Espanha vai apresentar algum novo produto para o mercado russo?
Não. Como escritório espanhol de turismo apostamos no nosso produto estrela, o sol e praia, mas estamos realizando ações de apoio ao segmento MICE e ao turismo educacional ou de idioma, sem esquecer o turismo de cruzeiros ou de golfe.
Os novos destinos emergentes no Leste Europeu podem ser considerados concorrentes do turismo espanhol?
Sem dúvidas. Há grandes aumentos nesses destinos, como na antiga Iugoslávia, que são muito agressivos e têm determinadas vantagens como a isenção de visto, de modo que são grandes concorrentes.
Não podemos esquecer o Caribe, Tailândia ou Vietnã, mas nós, que predicamos, e aqueles que estão no mundo real sem aspas, que são os empresários espanhóis, sabemos o que devemos fazer.
O Caribe, a América Latina e a América Central estão recebendo muito turismo russo e há muitos investimentos espanhóis nesses territórios. Isso não significa uma concorrência forte para a própria Espanha? Já vi muitos hoteleiros espanhóis aqui promovendo esses destinos.
É assim mesmo. Há empresas espanholas com seus próprios estandes nas feiras, sem o apoio do Turismo da Espanha ou da Catalunha. As redes hoteleiras espanholas com hotéis no Caribe vendem também esses destinos e vê-se logo a reação do mercado com um grande aumento da emissão para Cuba e para a República Dominicana.
Na sua opinião, quais as principais feiras na Rússia e na CEI?
Sem dúvidas a MIIT é a mais popular e conhecida, mas há outras. As regiões com vontade e possibilidades de aumentar o turismo estão fazendo suas próprias feiras.
Em Moscou, depois da MIIT, temos neste ano a 4a edição da Intourmarket, com apoio da Agência Federal de Turismo da Rússia, com foco na promoção das diferentes regiões do país. Nós queremos que os nossos empresários conheçam essa feira e participem porque pode ser muito interessante sobretudo para o turismo emissivo da Espanha para a Rússia.
No outono há outra feira importante em São Petersburgo da qual participamos para a promoção do nosso turismo de inverno, de neve ou de esqui, e das Canárias.
Também na Ucrânia participamos da UITT e em Cazaquistão de uma feira no final de abril. Ali o mercado é pequeno, mas muito interessante do ponto de vista das possibilidades econômicas dos turistas que nos visitam.
Gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
Gostaria de transmitir uma mensagem positiva. A situação é muito complicada. O mercado russo teve um crescimento econômico extraordinário nos últimos oito anos, mas a crise aqui é mais profunda e rápida do que nos países ocidentais da União Europeia. Insisto na mensagem positiva porque foi um mercado excelente no que diz respeito ao turismo emissivo para o nosso país nos últimos quatro anos. Eu penso que quando a situação econômica melhorar, e isso quer dizer emprego, PIB, valorização do rublo em relação ao euro e ao dólar, as possibilidades vão ser enormes.
E não é apenas a minha opinião, mas a dos empresários espanhóis habituados à realidade dos mercados. Eles continuam interessados no mercado russo e mostram seu interessa participando das feiras. Ânimo! Com trabalho podemos manter o sucesso!