Miguel Ángel Cañizales, embaixador do Panamá na Espanha
O novo embaixador do Panamá na Espanha explica ao Caribbean News Digital detalhes sobre as relações econômicas entre ambos os países, o crescimento econômico panamenho e os projetos ligados ao Turismo, à Educação e à Saúde, principalmente destinados à população índia panamenha.
Quando o senhor assumiu o cargo de embaixador na Espanha?
Eu cheguei na Espanha no início do ano. Eu vim com a Primeira Dama para participar de um grupo de atividades da Fundação do Real Madrid que convidou os jovens da Fundação do Real Madrid do Panamá, integrada por crianças de famílias de baixa renda. Depois continuei nas minhas funções na Embaixada.
A Espanha rejeitou o levantamento da classificação do Panamá como país de alto risco econômico e financeiro. Como pode incidir isso nas relações do Panamá com o mercado europeu?
Isso foi analisado pelos presidentes Rodríguez Zapatero e Torrijos. É um tema muito delicado que deve ser tratado com diplomacia. Temos iniciado um processo de negociações para mudar a imagem do Panamá na Espanha. Simon Bolívar disse que "se fosse necessário escolher uma capital da América Latina, essa capital seria o Panamá". Nossas condições históricas e geo-sociopolíticas permitem o nosso crescimento, mas devemos resolver alguns assuntos.
Continuam as conversações para levantar a classificação de "paraíso fiscal"?
Continuam. Temos avançado nisso a partir da visita de Zapatero e do ministro da Indústria, Comércio e Turismo, Joan Clos. Já avançamos bastante para a assinatura de um acordo que evite a evasão fiscal e a dupla imposição.
O Panamá vai apoiar os investimentos espanhóis no país?
Lógico. O investimento espanhol é o segundo mais importante no Panamá e é favorecido pela desvalorização do dólar. O país oferece segurança jurídica, estabilidade política, vantagens fiscais, boas comunicações, um banco de categoria mundial e a segunda zona livre mais importante do mundo.
O senhor foi anteriormente ministro da Educação, quais as políticas desenvolvidas nessa área na conservação das culturas e em favor do povo?
Executaram-se políticas que continuam porque são nacionais, de Estado, não partidárias. Um dos projetos mais interessantes é o intercultural bilíngüe para a aprendizagem da nossa população indígena na sua própria língua. Um dos nossos principais problemas é a educação dessa população.
Quando eu estava no Ministério, avaliou-se pela primeira vez a preparação da população e verificamos que há deficiências em matérias básicas como espanhol, matemáticas, ciências naturais e sociais.
Um dado importante é que o Panamá está participando pela primeira vez na avaliação de 17 países do mundo através da Rede dos Sistemas de Medição e Avaliação da Qualidade da Educação dos Ministérios da Educação dos países (LLECE), que é um projeto da Unesco.
A partir de 2009 o Panamá vai participar da Prova do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), que é uma prova de excelência que se aplica unicamente aos países da OCDE, nas matérias de espanhol e matemática.
O Panamá tem um grande desenvolvimento econômico, mas devemos fortalecer o desenvolvimento humano.
E quanto ao turismo, e desculpe que volte sempre à sua responsabilidade anterior, quais são as políticas?
O Ministério da Educação tem uma parceria com o INADHE, que é o centro de formação para o desenvolvimento humano, para a capacitação na área turística.
Há programas para desenvolver o turismo, a começar pelas habilidades das pessoas.
Nesse sentido temos o projeto "English for Life" e o "Inglês para Crianças" durante o ensino primário. Depois de seis anos de estudo os alunos são bilíngües. São programas de tanto sucesso que as empresas não querem esperar que os estudantes terminem para contratá-los.
Como pensam harmonizar o crescimento econômico, o desenvolvimento turístico e, principalmente na Cidade do Panamá, a infra-estrutura?
O Panamá teve um crescimento econômico muito rápido. É uma das economias ibero-americanas e do mundo mais sólidas, com uma inflação muito baixa. O crescimento em 2007 foi de 11,2%.
Esse desenvolvimento tem uma base técnica e operacional muito complexa. Há alguns meses foi oficializado o Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável do Turismo 2007-2020, em coordenação com os ministérios da Economia e Finanças e o da Moradia. O governo quer que o crescimento seja ordenado, contrariamente ao que acontecia anteriormente.
O Plano Diretor inclui outras cidades além da capital?
Exatamente. Quando estiver em execução terá escritórios regionais em cada região turística.
O Plano prevê ainda a criação da Polícia Turística, maior capacidade de transporte aéreo, mais aeroportos e companhias aéreas, vistos específicos e o aumento da capacidade hoteleira.
A construção da auto-estrada vai melhorar a situação da moradia, a educação e a segurança em Colon?
Sem dúvidas vai gerar um crescimento econômico que vai favorecer a província de Colon, um sonho de muitos governos e dos habitantes de Colon, onde temos a Zona Livre, uma das mais importantes do mundo para a exportação de mercadorias secas. No futuro, a Cidade do Panamá vai estar unida a Colon e isso vai fortalecer o comércio internacional. Como o senhor sabe, pelo Panamá passa 5% do comércio mundial.
Essa auto-estrada vai ter repercussões no comércio mundial porque vai ser um "Canal Seco" pelo qual vão circular as mercadorias da cidade de Colon, no Atlântico, até a Cidade do Panamá, no Pacífico, em 30 ou 45 minutos, enquanto um navio cruza o Canal durante um período que vai de três dias a uma semana. Assim, as mercadorias que cheguem ao porto de Colon poderão ser transportadas de caminhão até o porto da cidade do Panamá, no Pacífico, com muita rapidez. Por outro lado, o terceiro jogo de exclusas vai permitir a passagem de navios muito maiores, nomeados Post-Panamax, que poderão transportar cerca de 9.000 contêineres. Essa é a nossa "vantagem geo-sociopolítica".
Bocas del Toro e Chiquirí são regiões belíssimas, mas seus ecossistemas não estão sendo respeitados. O que é que vão fazer a respeito disso?
O desenvolvimento e a proteção do meio ambiente não podem avançar separadamente, de modo que há programas de ordenamento como a Política Nacional de Descentralização da Gestão Ambiental, a Política Nacional de Recursos Hídricos e um anteprojeto de lei em estudo para a regulamentação das áreas protegidas.
As comunidades indígenas vão ser levadas em consideração como se fez com os índios Emberás para que aprendam a proteger seu meio ambiente?
Há programas conjuntos de capacitação entre os ministérios do Turismo, do Comércio e Indústrias e da Educação para a capacitação dos indígenas nos processos turísticos. A média de escolaridade no Panamá é de 8,6 anos de estudo, enquanto a dos indígenas é de 2 a 3,6. O governo tem desenvolvido um programa de entrega de bônus às famílias sob duas condições: as mães têm de levar os filhos aos centros de saúde e de ensino.
Na área da saúde diminuíram muitas doenças e também a mortalidade infantil, e aumentaram as consultas médicas preventivas.
Temos medido o impacto desses programas e sem dúvidas aumentou o nível de escolaridade das famílias, a presença de estudantes nos diversos níveis de ensino e caiu a deserção escolar.
Os indígenas constituem mais de 90% das áreas de pobreza no Panamá. É um setor que vai desenvolver o turismo respeitando o meio ambiente através dos programas de Desenvolvimento Comunitário (PRODEC), voltados para os setores indígenas e camponeses, ou seja, para os setores mais pobres do país.