Patricio Tamariz, assessor do Ministro do Turismo do Equador
O Equador aposta fortemente no turismo e, além do tradicional destino das Galápagos, promove ainda o Equador continental, a Costa do Pacífico, os Andes e a Amazônia para o turismo sustentável. Depois de grandes mudanças no seu desenvolvimento turístico, o país espera atrair 1,5 milhões de visitantes para o ano de 2014.
Poderia nos explicar quais vão ser as modificações do Ministério do Turismo atual com as novas regras de trabalho?
Queria comentar um pouco sobre a história do processo desde o ano de 2006 até agora no Ministério do Turismo. O ano 2000 marcou o antes e o depois do turismo.
Estava dentro do ministério de Rocio Vazquez, de onde saíram vários projetos muito interessantes. O primeiro foi a Conta Satélite para medir o impacto do turismo na economia nacional. Depois se trabalhou no primeiro plano nacional de competitividade turística; foi um plano bem completo que na verdade não se pôde terminar, mas daí saíram muitas coisas interessantes como o Fundo Misto de Promoção Turística (FMPT) que funciona até hoje graças à gestão do ministro Freddy Ehlers.
Em 2003, quando muda o governo, esse Fundo Misto de Promoção Turística começou o desenho do Plano Integral de Marketing Turístico do Equador. Em 2004 saiu a marca turística do Equador que convida a viver a vida em estado puro.
Basicamente, este projeto significou um reposicionamento do Equador, especialmente no período 2004-2008. Eu fui o primeiro Diretor Executivo do FMTP de 2004 a 2007. Em outubro mudou o nome e começou a ser o Fundo de Promoção Turística.
Naquele tempo, o Equador começou a se posicionar como destino turístico na indústria turística internacional e a fazer as primeiras campanhas para o consumidor. Esses foram os maiores sucessos do FMPT.
Outro sucesso foram as campanhas internacionais para atrair consumidores. Houve uma grande campanha na Alemanha durante a Copa Mundial de Futebol de Alemanha 2006. O interessante foram as medições que fizemos para essa campanha. Antes dela, apenas 9% dos alemães sabia que Galápagos pertence ao Equador. Houve coisas como essa que insertamos em mensagens de televisão. Temos podido alcançar coisas importantes, como aumentar na Alemanha o número de operadores que trabalham com operadores equatorianos, que de 40 subiu para 110. Até Thomas Cook, com cerca de 10 mil agências de viagens, começou a comprar produtos equatorianos, coisa que não tinha feito antes. 50% dos alemães lembraram a campanha em uma pesquisa posterior.
Também criamos ações com a National Geographic para o consumidor. Temos importantes prêmios internacionais: por exemplo, ganhamos o Travel Industry Association of America (TIA), que pela primeira vez deu o prêmio a um país estrangeiro. O prêmio foi recebido pelo Equador pela qualidade da campanha de publicidade que estávamos fazendo nos Estados Unidos. Era uma publicidade com uma mensagem especial sobre o turismo sustentável. Obtemos ainda o Golden Adrian Award da HSMAI, a mais reconhecida instituição de marketing e relações públicas nos Estados Unidos. Aí começamos a fazer coisas mais interessantes para atrair mais atenção para o Equador.
Agora estamos em uma nova época. Há quatro meses que fui nomeado Subsecretário de Marketing Turístico e temos trabalhado nestes quatro meses, em 17 férias e eventos, com muito sucesso. A Semana do Equador no Peru é o começo da nossa campanha nos países vizinhos.
Este ano esperamos receber cerca de 1,1 milhões de turistas no Equador, o que representa uma cifra recorde e vamos seguir trabalhando. Há uma meta que eu penso que vamos superar, que é ter 1,5 milhões em 2014, com o novo plano integral de marketing turístico que temos agora.
O ministro, como bom capitão do time, se deu conta de que temos de mover peças específicas e me pediu passar de subsecretário a assessor direto para as campanhas internacionais nos Estados Unidos e na Europa.
Esperamos começar a campanha nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Alemanha, na França e na Espanha em 2011.
Nosso presidente, Rafael Correa, prometeu 40 milhões de dólares para a promoção turística do país. Todos no setor turístico estamos muito contentes por isso. Para mim é muito mais trabalho, claro, mas fico feliz porque estou aqui para trabalhar por meu país e por meu presidente. O que ele diz é que não estamos vivendo uma época de mudanças, senão uma mudança de época. Estou convencido disso.
Precisamente nossa nova marca “Equador ama a vida” vem com tudo isso. Está mostrando o plano nacional de bem viver, plano nacional de desenvolvimento, que realmente incita a que a pessoa, em vez de acumular riqueza e viver melhor, viva bem. Essa a principal base do turismo sustentável.
Com muita iniciativa estamos nos posicionando como líderes do turismo sustentável. Trabalhamos também em um projeto que, se o senhor viu o filme Avatar, temos uma parte espetacular da Amazônia que é exatamente assim, com grupos que ainda não estão conectados. Perto dessa área há um grande campo petroleiro. O presidente disse que não vamos tocar esse petróleo. Vamos fazer uma organização para receber fundos e não desenvolver isso para não causar mais emissão de gases estufa à atmosfera.
Vamos desenvolver um ecoturismo sustentável para sempre. E mais, ter a primeira constituição no mundo que ampare os direitos da natureza nos indica que o Equador Ama a Vida e convidamos todos os que procuram amar a vida para que venham ao Equador.
Como considera o Equador o desenvolvimento dos países emergentes como os da antiga União Soviética: Rússia, Ucrânia, Cazaquistão? Pensam expor diretamente nas feiras MITT e Leisure?
Como muitos países, queremos captar os países BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). No caso do Brasil, vamos começar uma campanha em 2011. Por exemplo, no Brasil não há vulcões e nós temos nossa Avenida dos Vulcões, com neve cerca da linha equatorial. Não tem o Pacífico e imagine que há quase um milhão de surfistas no Brasil. Nós temos ondas espetaculares, ondas tão longas que o surfista pode percorrê-las quase um quilômetro.
Temos também as Ilhas Galápagos com incríveis pontos de surf tipo Hawai.
Realmente vemos um potencial incrível nesse mercado, mas sei que vai demorar pelo menos dois anos ter voos diretos de São Paulo a Quito e a Guayaquil porque é incrível a quantidade de voos que temos do Brasil através de Lima com a TACA e a Avianca. Não existe a grande conectividade que temos com os Estados Unidos, mas a oferta e a demanda os aumentaria daqui a pouco.
Com China trabalhamos em um novo projeto chamado projeto Manta-Manaos. Em Manta temos uma pista de aterrissagem que fizeram os estadunidenses para vigiar o narcotráfico. É uma das pistas mais longas da América do Sul. O interessante é que os asiáticos querem investir quase 450 milhões de dólares nesse projeto para ampliar o porto, a pista que existe, construir mais duas e fazer que este aeroporto converta a carga marítima do porto em carga aérea e ganhar tempo na distribuição; mas o interessante para nós é que vão nos deixar uma dessas pistas com a possibilidade de aterrissagem de um Airbus 380. Apresentaram uma conexão interessante Tóquio-Taiti, Taiti-Manta, Equador e Manta-São Paulo. Vamos ter importantes conexões com o Brasil e com a Ásia.
Existe agora um comércio enorme de rosas do Equador para a Rússia...
Estamos trabalhando a Rota das Flores, inaugurada recentemente. Para a promoção deste projeto tivemos 1,6 milhões no ano passado e também para 2011. Acabamos de realizar a Feira Mundial de Rosas no Equador e a maior parte dos compradores eram russos. Já há uma conexão bem importante e vários operadores do Equador estão visitando esse mercado, especialmente nas feiras que mencionou.
No caso da Índia qyueremos convidar a indústria cinematográfica para filmar aqui em nosso país e depois virão os turistas.
Vão estabelecer algum porto para cruzeiros?
Vamos. Justamente temos Manta como porto de cruzeiros aonde chegam 24 navios a cada ano, e isso não é muito. Um dos meus trabalhos vai ser ir às feiras de cruzeiros, bater nas portas, começar a mostrar a quantidade de produtos que temos na zona para que eles venham. Antes não havia produtos suficientes, mas agora há. É muito importante trabalhar nisso.
Na estratégia do novo Ministério do Turismo, além da promoção e do marketing, está a parte da gestão de desenvolvimento dos destinos. Por isso estamos trabalhando em vários produtos que são o Adventure and Sports Tourism, o ecoturismo, o turismo cultural e o de cruzeiros. Vemos a importância da visita destes cruzeiros para as economias locais e as excursões devem ser bem atendidas.
Dentre as projeções que explicou, acho que há uma que é a mais importante: sem dinheiro não há negócio. Com 40 milhões de dólares é possível estabelecer uma política de comunicação no Equador, não somente como país de emigração, mas também como país de recepção a partir da imagem que os emigrantes equatorianos têm deixado em muitos países, pois a maior parte são trabalhadores, honestos e falam sempre de um país que é desconhecido para muitas pessoas. Vão usar esses 40 milhões com um critério promocional, publicitário ou para a estrutura do mesmo ministério no exterior?
A mensagem geral da nossa comunicação vai estar composta de varias partes e vai ter diferentes elementos. A primeira é que vamos promover definitivamente todo o Equador continental, a Costa do Pacífico, os Andes e a Amazônia. Promoveremos em menor grado as Ilhas Galápagos, para que o mundo identifique que as Galápagos pertencem ao Equador e que as coisas boas das Galápagos somos nós que estamos fazendo.
As Galápagos, segundo o diretor de ciências da estação Charles Darwin, estão em seu melhor estado de conservação desde há mais de 100 anos. Às vezes esta mensagem é confusa e não é bem compreendida. Por quê? As ações que têm sido desenvolvidas ali têm sido espetaculares. Por exemplo: a recuperação das populações de espécies nativas como a tartaruga Galápagos. Muitas destas ilhas estavam cheias de cabras introduzidas na época dos bucaneiros e competiam pela mesma fonte de alimentos. Já foram eliminadas na maioria das ilhas. Há também controles na emigração das pessoas ao arquipélago e há consciência importante em todos os âmbitos sobre a importância das ilhas. Vamos fazer um estudo para conhecer o limite de turistas que realmente podem entrar nas Galápagos. A demanda vai crescer e os preços para Galápagos vão subir extraordinariamente.
Na minha opinião, algum dia as Galápagos devem deixar de ser província, falando em geopolítica, e devem ser transformadas no primeiro parque Mundial (First World Park). Existem parques nacionais, mas até agora não há um parque mundial, e esse deve ser as Galápagos. Isto é uma primeira parte da mensagem a comunicar.
A outra parte é que queremos compartilhar o país, não vendê-lo. É outra mensagem e penso que é outro ponto base da sustentabilidade turística.
Precisamos mudar o mundo e queremos que este pequeno país, que representa 0,01% da superfície do planeta, comece a fazer mudanças e a ter uma percepção mundial honesta e real das boas práticas do setor público e privado no turismo sustentável. Esse modelo pode ser replicado primeiro pelo resto dos países latino-americanos, e depois pelo resto do mundo.
Temos gente muito valiosa em nosso país, também gente muito valiosa que saiu de nosso país. Essa gente em algum momento deseja voltar e penso que queremos construir um entorno saudável onde eles vejam as mudanças suficientes para gerar um estado de bem viver. Para isso estamos trabalhando.
O presidente tem colocado o setor turístico como o setor estratégico número um que vai dar o retorno mais rápido ao país. Temos uma responsabilidade importante e, mesmo nos momentos mais difíceis de trabalho, devemos pensar que compartilhamos uma responsabilidade histórica. Este é o momento.