Sobre a crise migratória entre a Espanha e o Brasil

18 de Março de 2008 2:59am
godking

Agências de viagem, autoridades e a mídia opinam sobre a crise entre a Espanha e o Brasil. Para alguns é artificial, enquanto outros levam a situação muito a sério, mas todos em geral confiam nas negociações diplomáticas.

As agências de viagem espanholas consideram que o tráfego de turistas entre o Brasil e a Espanha não será afetado e que as expulsões de passageiros de um lado e outro são casos pontuais. José Manuel Maciñeiras, presidente da Associação Espanhola de Agências de Viagem garantiu que este "desencontro diplomático" não provocou cancelamentos e confia nas negociações para que o conflito seja resolvido.

Para Jesús Martínez Millán, presidente da Federação Espanhola de Associações de Agências de Viagem (FEAAV), as autoridades de ambos os países estão exigindo requisitos que normalmente não são considerados e, nesse sentido, as agências de viagem estão lembrando aos turistas a importância de terem os documentos em ordem e que viajem para o Brasil com cartão de crédito e bilhete de ida e volta.

Em 2008, as autoridades migratórias espanholas barraram 750 brasileiros - no ano passado foram cerca de 3.000 - e em resposta as autoridades brasileiras rejeitaram a entrada de cerca de 20 espanhóis nos últimos dias.

O governo espanhol, com forte imigração ilegal latino-americana, disse por meio do ministro do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, que a Espanha, "como porta da Europa, tem que cumprir as normas, e as pessoas que pretendem entrar ilegalmente têm que saber que será muito difícil".

O ministro fez estas declarações em entrevista à rede pública "Rádio Nacional da Espanha" ("RNE"), ao ser perguntado pela queixa feita pelas autoridades brasileiras diante dos casos de passageiros brasileiros devolvidos pela Espanha.

Rubalcaba se declarou disposto a corrigir os erros que podem ter sido cometidos através do diálogo com as autoridades brasileiras.

Por outro lado, para o ministro brasileiro da Justiça, Tarso Genro, é "inaceitável" que um país adote tratamento discriminatório voltado para cidadãos de determinadas origens para impedir que pessoas circulem em seu território, como a Espanha estava fazendo com os brasileiros. "Isso determinou também uma lupa de nossa parte na entrada dos espanhóis", explicou o Ministro, com a ressalva que a situação já caminha para a normalidade, numa referência às conversas que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, tem mantido com seu colega espanhol Miguel Angel Moratinos.

"Todas as prisões, impedimentos de entrada e devoluções que forem feitas de acordo com a lei soberana do território e com as normas do direito internacional são absolutamente aceitáveis", afirmou em breve entrevista coletiva na sede do Ministério Público do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.

Já o jornal El periódico de Catalunya afirma em editorial que "a crise é artificial e que está ligada à posição espanhola de evitar a entrada ilegal de latino-americanos que procuram na Europa melhores condições de vida, enquanto a situação inversa é inexistente porque os espanhóis não emigram para a América Latina". O jornal aponta "que o governo do presidente Lula sabe disso, mas que o Brasil precisa de se firmar como potência emergente na América Latina e mostrar que pode interagir em condições de igualdade com os países europeus".

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