Sonhando e Havanatur: nova rota aérea Portugal-Havana
Em entrevista exclusiva, Eduardo Pinto Lopes confirma o início dos vôos Lisboa-Porto-Havana da euroAtlantic em julho, na temporada alta européia, e explica as razões da aposta do Grupo Pestana em Cuba
O senhor poderia explicar os detalhes desta nova operação da companhia aérea do Grupo Pestana e as razões da escolha de Cuba neste momento?
Antes do mais gostaria de dizer que os acionistas da empresa que eu represento são o Grupo Pestana, a euroAtlantic - que é a companhia aérea do Grupo - e eu próprio, ou seja a empresa é constituída por estes três sócios. Eu sou o presidente executivo da empresa e desenvolvo toda a estratégia da área da distribuição do Grupo Pestana.
Nós somos um operador que temos uma característica e é que não somos generalistas, mas multiespecialistas. Temos as marcas Terra que representam cada um dos produtos: a terraÁfrica, terraBrasil, terraEuropa, terraMinha - que é o produto de Portugal - e agora terraCuba e terraAmérica porque vamos começar duas operações charters, uma para Miami e outra para Orlando a partir de 18 de julho.
A idéia de operar Cuba nasce de uma relação e de um convite formulado pelo governo cubano ao Grupo Pestana durante a Fitur 2008 e não tem nenhuma relação com aquilo que está a ser feito no Brasil. Toda a estratégia foi montada para criar mais uma marca na área da distribuição do Grupo.
O Grupo foi convidado a vir conhecer Cuba e a atuar nas áreas onde tem mais força: a hotelaria, com investimentos na área da hotelaria em Cuba, que é um processo que está caminhando com boas perspectivas; a companhia aérea - a Euroatlantic teve um avião alugado à Cubana até finais de abril, mas o avião voltou porque a Cubana recebeu um avião novo como nós vimos na apresentação aqui - e a área da distribuição.
A área da distribuição identificou com a Havanatur uma oportunidade de vir olhar o produto Cuba e ver se valia a pena fazer um investimento nesta área. Antes da viagem fizemos um estudo no nosso mercado, em Portugal, e demo-nos conta que há cerca de dez anos os operadores que operam Cuba oferecem um monoproduto que é Varadero. Assim, 89 ou 90% do seu esforço é para vender o charter Varadero, ou seja, sol e praia.
Nós, pela experiência que a Havanatur nos proporcionou, vemos que Cuba tem muitos mais produtos além de Varadero e do sol e praia. Portanto, três fatores contribuíram para a gente tomar a decisão. Primeiro: Existe ou não existe um bom produto? Cuba é ou não é um bom produto? A resposta é que Cuba é um bom produto e um produto diversificado, o que possibilita fazer muitas coisas se há imaginação.
Segunto fator muito importante: Pelas características sociopolíticas de Cuba é preciso ter um partner cubano forte e esse partner é a Havanatur. Estamos com o partner mais forte de Cuba porque além da estrutura de receptivo, a Havanatur tem uma componente de turoperador. Então a linguagem que a gente fala é a mesma. Para nós, a Havanatur não é um fornecedor, mas um partner de negócios.
A terceira componente foi que viemos descobrir que a ambição do Ministério do Turismo de Cuba é fazer crescer o número de turistas a visitar Cuba, abrir novos mercados, mas há uma grande limitação que é o transporte aéreo, e nós temos dentro da nossa empresa uma empresa de transporte aéreo que tem disponibilidade para poder desenvolver um trabalho desde que esse trabalho seja feito com seriedade e à volta da Terra, e então juntando tudo isso, Cuba apresentou-se como uma solução ideal para a gente poder crescer no mercado onde a gente está a atuar.
Quantas freqüências vão ter por semana?
Em todos os projetos é preciso analisar o mercado e dar passos seguros e não ter uma ambição sem limites para poder ter êxito. Então vamos começar com um vôo que vai fazer Lisboa-Porto-Havana.
Existem aqui duas grandes novidades: a primeira é fazer pela primeira vez um vôo direto do Porto para Havana porque o mercado do Porto, no norte de Portugal, é um mercado de muita contribuição para Cuba em tráfego. Hoje o mercado do Norte tem que ir até Lisboa para pegar um avião e voltar a sobrevoar o Norte para vir para Cuba. Nós estamos criando a facilidade de voar diretamente do Norte. O segundo fator muito importante é que hoje o Porto tem um aeroporto muito moderno que foi eleito o aeroporto regional mais moderno da Europa e que está apenas a cem quilômetros de Vigo, na Galiza. O aeroporto do Porto coloca ônibus grátis para ir buscar os passageiros dos vôos que saem do Porto. Com essas facilidades, na realidade estamos atacando o mercado do Norte, na fonte, e a Galiza, que tem relações históricas com Cuba por razões várias que todos conhecemos: razões históricas, culturais, de sangue... Nós queremos despertar esse tráfego adormecido. Também a Havanatur tem uma estrutura física na Galiza que nós vamos alimentar com o nosso vôo.
O senhor já respondeu a minha segunda pergunta sobre a possibilidade de que os espanhóis viagem através desse vôo porque para as províncias do oeste espanhol, tanto do Sul quanto do Norte, Lisboa ou Porto estão na mesma escala de Madrid.
Com uma vantagem muito grande e é que o aeroporto do Porto é mais fácil. Tem apenas um terminal, muito moderno e eficiente, e com uma política de incentivo a novos vôos porque não dá dinheiro, mas permite que um operador com uma operação nova no Porto possa utilizar o espaço comercial do aeroporto para fazer a publicidade do seu produto. Em duas ou três semanas vai ser anunciado o vôo direto do Porto para Havana e vamos ter milhões de passageiros passando pelo aeroporto do Porto. Além disso, o aeroporto é muito competitivo nomeadamente para as conexões das low cost vindo dos diferentes pontos da Europa e nós vamos procurar que o horário dos vôos seja um horário que permita a captação de tráfego nos diferentes pontos que fazem conexão em Lisboa e no Porto.
Quais os aviões que vão utilizar nestas operações?
Um Boeing 767 da euroAtlantic com 275 assentos onde vamos utilizar o espaço comercial para promover os produtos multidestino da Havanatur.
Penso que este é o primeiro passo de outros que a terraCuba e a Havanatur poderão dar no futuro. Na operação vamos partilhar a responsabilidade 50%-50% com a Havanatur, de modo que a Havanatur não é um fornecedor. É um partner. Nós temos a dinâmica do mercado emissor e do outro lado a Havanatur tem seus escritórios na Europa e um grande interesse neste vôo, daí que pensemos que o resultado vai ser bom, além de que vamos começar na alta temporada da Europa, em julho, exatamente em 11 de julho.
Neste caso a sua empresa tem a Havanatur como partner para partilhar o vôo. A Abreu também vai aumentar seus vôos para Cuba, para Varadero evidentemente. Minha pergunta é: não é muito para o mercado português?
O problema é um pouco diferente. Não gosto de falar da concorrência porque as análises podem parecer negativas, mas como me coloca a pergunta de forma tão aberta, devo responder de forma aberta. Na realidade a Abreu não tem mais um vôo. Esse vôo para Varadero vai ser em conjunto com cinco operadores: a Abreu, Mundovip, Travelplan, Iberojet - Ibercuba neste caso - e Soltour. Eles estão utilizando um avião da White com 220 lugares. Quando se faz a divisão por cinco, então o resultado são quarenta e poucos assentos para cada um. Na temporada alta é normal que tu passes de 40, com três charters, para 120.
Nós, só a terraCuba, com um charter, entrando agora no mercado, vamos ter 142 lugares.
Sobre a outra pergunta, sobre a possibilidade de ser muito para um só mercado eu posso responder que não é muito porque colocar três vôos na temporada alta é o que já fazem nos últimos três anos os operadores que até agora faziam Varadero. O fator novo é a entrada por Havana e que Varadero seja para nós 20% do produto e não 90%. A nossa grande preocupação é uma Cuba global. Pensamos que no próximo ano poderemos fazer um charter para o segmento sol e praia, mas não Varadero. Talvez Jardines del Rey, Holguín, algum cayo... Nossa opção aqui em Cuba é fazer diferente sem deixar de fazer também Varadero.
Poderia haver charters em outras épocas do ano?
O nosso vai ser anual com um reforço nas épocas em que o mercado emissor pede mais capacidade: final de ano, semana santa... Estamos preparando também um programa para os jovens com uma empresa do nosso grupo que só trabalha o tráfego jovem. Penso que se pode criar um fluxo de jovens para Cuba porque Cuba tem todas as condições para isso.
El Grupo Pestana tem a intenção de construir ou administrar hotéis em Cuba. Poderia dizer alguma coisa sobre isso?
Sim. A intenção é certa, mas da intenção à realidade há um caminho a percorrer. Esse caminho é mais fácil porque é a intenção do Grupo Pestana é também a intenção do Ministério de Turismo de Cuba. O Grupo Pestana entrou para o grupo das cem cadeias hoteleiras mais importantes do mundo e, obviamente, se o governo de Cuba puder ter uma cadeia hoteleira portuguesa em Cuba, a preferência vai para o maior grupo que é o Grupo Pestana, até porque tem uma presença muito forte na América do Sul. No Brasil é muito forte, também em Buenos Aires, o próximo dia 17 inaugura um hotel em Caracas. Eu não estou na área hoteleira, mas na área da distribuição que é chamada a dar uma opinião quando o Grupo pretende mover-se de um sítio para outro e Cuba não é inocente de que a gente esteja aqui. O Grupo Pestana vai ter já sua área de distribuição fazendo um trabalho anterior.
Eu não tenho mais perguntas. O senhor gostaria de dizer mais alguma coisa?
Eu queria dizer que nós ficamos surpreendidos com a capacidade de organização da Havanatur e com a capacidade de resposta que nos deram. Nós identificamos aqui pontos em que nós somos muito fortes e que a Havanatur não é tão forte. Aqui vai nascer um intercâmbio que vai tornar mais fortes as nossas duas empresas. Isso é algo que vai acontecer em paralelo ao negócio e por identificarmos isso é que decidimos avançar para uma parceria que não é propriamente compra e venda, mas trabalharmos em conjunto num projeto.