Turismo e comunidade GLS no Brasil
A Associação Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes - ABRAT tem como missão incentivar o turismo, lazer e entretenimento dos consumidores do mercado GLS, defendendo os interesses e estimulando o aumento no volume de negócios de seus associados. Sobre o funcionamento da Associação e sobre outros temas de interesse conversamos com sua diretora de Relações Internacionais, Marta Dalla Chiesa.
O nome das organizações de gays, lésbicas, transexuais e bissexuais no Brasil é diferente aos nomes no resto do mundo. Qual a razão disso?
Existe essa diferenciação desde o início do movimento no Brasil que se chamou GLS por ser Gays, Lésbicas e Simpatizantes. No turismo, esse é um segmento de mercado e falamos em GLS, enquanto no aspecto dos direitos humanos no Brasil falamos em movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais).
Tem estatísticas de quantas pessoas são gays ou lésbicas no Brasil?
-As estatísticas são as mundiais segundo as quais as pessoas gays ou lésbicas são 10% da população, o que significa 19 milhões de pessoas.
No mercado nós falamos de nove milhões de consumidores potenciais, ou seja, 6% da população adulta.
Como estão distribuídos esses nove milhões por estado ou cidade no Brasil?
-Há alguns centros de concentração. De acordo com o censo do ano passado, que incluiu os casais que coabitavam, o Rio de Janeiro e Florianópolis são as capitais com o maior número de casais coabitando. Em Florianópolis se fala em torno de 20% da população, que é de 400 mil pessoas, de modo que seriam 80 mil, ainda que não tenhamos dados precisos. No Rio acho que está nessa margem também, 15-20%, do total de oito milhões de pessoas.
Há dois anos, o Festival de Gramado tinha um espaço bastante grande dedicado ao setor GLS. Isso não é assim agora. Qual é a razão?
-No ano em que se lançou o salão de turismo GLS houve uma grande promoção disso. Coincide também com a crise de 2009-2011. Alguns destinos que antes tinham dinheiro governamental agora não têm.
Vai encontrar esses espaços em outras feiras, como a de Madri, que vai repetir em 2012 pelo sucesso do salão de 2011.
A feira de Berlim cresceu também, mas na América Latina e aqui em Gramado houve uma retração.
Vão participar da Fitur?
-No futuro pensamos incluir Madri nas feiras em que a ABRAT GLS participa.
Quais operadoras ou agências de viagens que trabalham segmento no Brasil?
-No site da ABRAT – GLS temos a lista de associados em todas as categorias: operadoras, agências de viagens, companhias aéreas, hotelaria... Alguns são simpatizantes e outros são exclusivos.
A Associação tem uma estrutura por estado no Brasil?
-Não. Nós temos representantes da Associação em vários estados e temos diretores regionais que trabalham em diversas áreas, mas não temos uma estrutura da ABRAT por estado.
Quanto dinheiro movimenta o setor gay no Brasil?
-Esse estudo é bem incipiente. Foi feito no ano passado e se fala que dos nove milhões, o gasto médio seria de três mil reais por pessoa por ano, o que resulta em uma cifra acima de vinte bilhões em viagens.
Há alguma preferência nos destinos?
-Em primeiro lugar São Paulo porque ali ocorre o maior evento do Orgulho Gay no mundo, com três milhões de pessoas, e depois Rio de Janeiro e Florianópolis. Esses são os destinos principais e depois Recife e Salvador, mas com números bem menores.
E quanto aos destinos internacionais?
-Nova York e São Francisco são grandes atrações nos Estados Unidos, e também Paris, Barcelona e Londres na Europa.
Quais seriam as diferenças entre lésbicas e gays nos gastos? Quem gasta mais?
-Há um perfil de gastos que indica que lésbica gasta de maneira mais concreta, sem usar cartão de crédito, mas o gay utiliza cartão e crédito. O gay vai quando ele quer, mas a lésbica é mais conservadora; primeiramente ela economiza. São atitudes mais ligadas ao gênero que à sexualidade, em minha opinião.
Sabem quantas pessoas são gays e lésbicas na ABRAT?
-Não temos esses números porque a maioria dos nossos associados são simpatizantes, ou seja, são empresas hétero e gay friendly, de modo que não tenho uma cifra, mas há um grande número de mulheres na Associação.
Qual seria o motivo de que as lésbicas prefiram não declarar sua orientação sexual, ao contrário dos gays que são mais abertos nesse sentido?
-Pode ser que exista essa preocupação de anonimato que não existe no segmento masculino. Muitos destinos estão fazendo campanhas para as mulheres. Antes não. Muitos destinos atraíam somente homens a partir da idéia de que as mulheres gastavam menos, mas há estudos que mostram que isto não é verdade. A verdade é que elas não são cortejadas pelos destinos, mas elas viajam e gastam. A questão é de marketing. Isso em termos de negócios.
Já em termos de visibilidade, eu acho que tem a ver com a maneira de ser mulher que em geral não são tão sobressalentes na vida pública, o que afeta muito a visibilidade das lésbicas.
Poderíamos dizer que a mulher lésbica é mais bissexual que o homem gay?
-Eu acho que não existe essa tendência. Ao contrário, acho que em muitos países o homossexual masculino tende a ser bissexual por causa da sociedade.
E a mulher não?
-É muito mais aceitável que a mulher fique solteira, por exemplo, enquanto o homem é cobrado pela família.
De acordo com um estudo de há alguns anos atrás, 40% dos homens no Brasil tinham tido sexo com homens, mas não se diziam homossexuais.
Como se pode ser membro da Associação? De maneira particular ou empresarial?
-Nós somos uma associação de empresas ligadas ao turismo ou ao entretenimento. No site www.abratgls.com.br existe uma ficha de filiação e a lista de documentos a serem enviados para serem analisados na Diretoria. O membro paga uma trimestralidade ou anuidade dependendo do porte da empresa.